Ah, o Carnaval, que lindo, não é mesmo?
Se você, como eu, ficou em casa, ouvindo a Banda Larga passar, deve entender o que sinto sobre esses dias.
Odeio.
Um tempo onde levam a sério o mote “Não existe pecado. Mas também não existe perdão.”
Alias, que belo slogam essa frase seria para o nosso Carnaval, não?
Carnaval Brasileiro. Onde não existe pecado, nem existe perdão.
Fica a dica Embratur.
É que durante o Carnaval todo mundo pode tudo, como se não houvesse amanhã.
Ou melhor, como se não houvesse quarta-feira de cinzas.
A bem da verdade, a quantidade de contravenções sociais cometidas nesse período varia de acordo com os pudores de cada um.
Nem todo mundo sofre desse desvario.
Numa escala que vai de 0 à Bangu 1, começamos por aquele que só assiste aos desfile pela TV. Pega no sono à uma da manhã, no ponto alto do baile do Monte Líbano, e sonha em ser destaque da Portela. É inofensivo.
Aí tem o folião de bloquinho.
Esse vai desde o que sai “só pra ver o pessoal” até aquele que é carregado em coma para o hospital.
Tem o folião que curte um estímulo químico, desde uma pinguinha até um opióide injetável.
O que gosta de loló, lança-perfume, é um tradicionalista.
O próximo nível de folião é o da mão boba.
Para ele, o Carnaval é uma pausa no espaço-tempo da moralidade e respeito aos desejos do próximo.
Seu objetivo é meter a mão nas partes íntimas de homens, mulheres e trans, de acordo com sua preferência.
Via de regra é, também, um serial kisser. Faz biquinho e tudo, e vai colecionando interações, a maioria com sucesso, entre um ou outro tapa na cara.
Durante o Carnaval, inclusive, um desembargador suspendeu queixas de assédio sexual, que estarão de volta na última semana de fevereiro sem efeito retroativo.
Esse desembargador, inclusive, foi visto na ala das baianas do Salgueiro.
A verdade é que durante a semana do Carnaval, o Brasil se transforma em terra sem lei, pensando bem, como é no resto do ano também.
Ocorre que entre os mais nefastos foliões, está uma categoria cujo mal, muitas vezes, é desprezado:
Trata-se do seu amigo animado.
O que resolve “agitar o pessoal” em todo feriado prolongado.
O mesmo mesmo que organizou o Reveillon em Trancoso.
Aquele que você suava tanto que que a a dona da Pousada gritou:
– Já disse que não pode mergulhar de roupa na piscina, hein!
O pior é que ele sabe convencer.
– Vamos para uma praia tranquila, né?
– Vamos!!!! – gritam todos.
Ele escolhe a casa no Airbnb e informa que é “pé areia” para delírio do grupo de WhatsApp.
Você responde que “pé na areia” todas são, porque vai ter areia no chão da sala até maio.
Ninguém entende sua fina ironia.
A casa é tão velha que tem TV de tubo.
Chuveiro elétrico que dá choque na torneira.
Alias, o Brasil é o único país que tem chuveiro elétrico, sabia?
No resto do mundo só misturam eletricidade e água quando querem se suicidar.
Você consegue sentir o cheiro de humidade já pelas fotos.
Para chegar na Praia da Dorotéia do Norte você leva nove horas no sábado de manhã.
O que faz com que as duas únicas suites já tenham sido ocupadas.
Em silêncio, você tira as malas do carro e descobre que só sobrou o quarto com ventilador no teto.
Ou a sala, que tem ar-condicionado, mas você vai ter que dividir o espaço com o Golden da Luquinha.
O que baba no requeijão e ninguém parece notar.
Você escolhe o quarto
Os dias passam lentos.
De madrugada bate aquela fominha.
Na geladeira, toda enferrujada, alguém colocou fita crepe com o o nome em todos os iogurtes.
Você nem gosta especialmente dos malditos iogurtes.
Mas você toma um. Só de birra.