Luís Eduardo Magalhães, 25/5 – O presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Celestino Zanella, avaliou que a disponibilidade de pré-custeio este ano, diferentemente do que ocorreu no ano passado, tem permitido aos produtores planejar a próxima safra 2016/17, que se inicia em julho, com maior tranquilidade. “Ao contrário do ano passado, tivemos uma parte de pré-custeio e isso está sinalizando que temos uma possibilidade de termos um custeio normal”, assinalou. “Passada essa tempestade política em Brasília, que é uma coisa à parte, vai existir uma normalização. Aí acredito que os bancos vão começar a retornar, os produtores vão fazer um balanço, e tenho certeza que seremos mais eficientes nos próximos anos, nos preocupando com mais qualidade nas nossas fazendas.” Ele chamou a atenção, contudo, para alternativas de redução de custo de produção em um cenário negativo da economia brasileira. “Se os produtores, no conjunto, fizerem um trabalho de monitoramento, um trabalho preventivo de pragas e doenças, nós vamos reduzir custo sem deixar de aplicar dinheiro na fertilidade, na semente, nas máquinas etc”, ressaltou. “Cada aplicação contra o bicudo é cerca de US$ 8 a US$ 9 só de produto, mais máquinas e equipamentos, isso fica pelo menos US$ 10 por hectare (mais caro).” Sobre os desafios do Matopiba, fronteira agrícola onde o oeste da Bahia está inserido, o principal é a irrigação, na avaliação de Zanella. “Se conseguirmos aumentar a área irrigada em 500 mil hectares, ampliamos em 50% a produção da cultura anterior, em sistema de rotação de culturas, e temos uma grande possibilidade de, em 10 anos, fazermos 0,4% de safra a mais por ano.” Para o algodão do ciclo 2015/16, o presidente da Abapa ressaltou que a colheita foi antecipada em cerca de 30 dias por causa do baixo volume de chuvas na região este ano. “Começamos em algumas regiões com produtividade de 180 a 220 arrobas por hectare, porém, esse algodão foi plantado em uma condição boa, com umidade no mês de dezembro e, quando começou a chover em janeiro, ele aproveitou esse período para crescer bem.” Segundo Zanella, quando parou de chover no fim de janeiro na região, as raízes se aprofundaram no solo, o que permitiu um desenvolvimento vegetativo adequado. Já o algodão plantado no início de janeiro foi prejudicado tanto pelo excesso de chuvas logo após o plantio quanto pela estiagem nos meses subsequentes. Essas lavouras devem render de 70 a 80 arrobas por hectare. “Talvez em algumas nem valha a pena colher, então vamos ter de destruir esse algodão”, apontou Zanella. Ele avaliou que, se o oeste baiano tivesse recebido 50 mm de chuva em março, 50 mm em abril e 50 mm em maio, seria possível bater recordes de produtividade. “Algumas pequenas variações fazem a diferença no setor agrícola”, argumentou. O presidente da Abapa não vê, entretanto, chance de redução expressiva de área na próxima safra em virtude dos problemas enfrentados no ciclo 2015/16. “Acredito que, quanto à área com algodão, salvo um problema sério de financiamento, vamos mantê-la e talvez até ampliar um pouquinho”, assinalou. “Alguns proprietários, por questões financeiras, vão passar para a soja ou para o milho, que têm um custo menor. Mas os que conseguirem crédito, conseguirem fazer o seu planejamento financeiro, devem permanecer na atividade”, concluiu. (*A repórter viaja a convite da Aiba)