O destino dos extremistas islâmicos atualmente presos na Síria preocupa o mundo inteiro, pois o mesmo pode ser alterado pela atual ofensiva turca no país, já que existe a possibilidade de fuga em massa em meio ao caos gerado por esta ação na região.

As Forças Democráticas da Síria (FDS), integradas às principais milícias curdas da Síria, as Unidades de Proteção do Povo (YPG), “alertaram que, se a Turquia penetrar na Síria, terão que dedicar todas as suas forças para repelir o ataque”, explica à AFP Sam Heller, analista do International Crisis Group (ICG).

“Eles mantêm milhares de prisioneiros do grupo Estado Islâmico (EI), em muitos casos em prisões improvisadas”, acrescenta.

“Se certos combatentes do EI aproveitarem o caos para escapar, poderão realizar operações na região. E se conseguirem fugir do campo de batalha da Síria, poderão reforçar grupos islâmicos radicais no resto do mundo”, alerta.

A administração semiautônoma curda do norte da Síria afirmou nesta quinta-feira (10) que os bombardeios turcos atingiram “uma parte da prisão de Jarkin, em Qamichli (no nordeste do país), onde se encontram muitos terroristas do EI (…) criminosos perigosos originários de 60 países”.

Antecipando a ofensiva turca, anunciada com vários dias de antecedência, os militares dos Estados Unidos transferiram “para um local seguro” pelo menos dois membros importantes do EI, revelou o presidente americano, Donald Trump, nesta quinta.

Segundo o Center on National security da Universidade de Fordham (Nova York), que cita funcionários do alto escalão do governo dos EUA, seriam “várias dezenas” de membros do EI capturados pelas FDS que foram previamente colocados sob a guarda do exército americano, provavelmente no Iraque.

No momento, as autoridades curdas na Síria afirmam que, apesar das circunstâncias, não pretendem abrir as portas de suas prisões.

“Sobre os jihadistas (estrangeiros), nossa cooperação (com a França) prossegue, ainda que em condições difíceis. Mantemos com força e rigor nossa cooperação”, garante à AFP seu representante na França, Khaled Issa.

“Tentaremos fazer um verdadeiro malabarismo em várias frentes com os meios dos quais dispomos”, destaca. “Estamos obrigados a retirar uma parte (de nossos homens), inclusive do vale do Eufrates, onde eventualmente o regime e seus aliados poderiam avançar. Esta operação (turca) terá um impacto muito negativo sobre nosso combate contra as células dormentes do EI, que realizamos diariamente”.

– “Voltar para casa” –

Para o presidente dos Estados Unidos, as coisas são simples e seus efeitos conhecidos. O que vai acontecer? “Bem, eles vão fugir para a Europa”, afirmou Trump ao responder a um jornalista, na quarta-feira

“É para onde querem ir. Eles querem voltar para casa, mas faz meses que a Europa não quer mais recebê-los”, se lamentou.

“Poderíamos ter entregue, eles poderiam ter sido julgados, e eles (os europeus) poderiam ter feito o que quisessem … “, acrescentou.

Alain Rodier, ex-membro do DGSE (serviços exteriores franceses) e diretor de investigação no Centro de inteligência francês (CF2R), não considera esta hipótese a mais provável.

“Até agora, parece que os jihadistas, principalmente franceses e europeus, não retornam à Europa”, disse à AFP.

“Eles sabem que a maioria deles é registrada, que os serviços de segurança têm seus nomes, fotos e, em muitos casos, suas impressões digitais; portanto, existe o risco de serem interceptados nas fronteiras. Se você sai de um campo de detenção, não é para entrar na prisão em outro lugar”, acrescentou.

“Parece que alguns teriam escolhido partir para o Extremo Oriente, onde não são conhecidos, outros poderiam escolher o Sahel (região da África Ocidental com uma grande presença de grupos jihadistas)”, concluiu.

A hipótese de fuga de certos radicais islâmicos para outros campos de batalha jihadista foi analisada no final de setembro, mas não levando em consideração a nova ofensiva turca, pelo coordenador nacional de inteligencia francês, Pierre Bousquet de Florian.

Ele informou que cerca de 40 jihadistas franceses teriam abandonado a província de Idlib, no norte da Síria, para integrar outras células do EI no sudeste asiático, Afeganistão e a região de Sahel.