Cidade de Sumy, no nordeste da Ucrânia, fica perto da fronteira com a Rússia, mas longe da atual frente militar. Rússia lança ofensiva inédita na região.As rodadas de negociações por um cessar-fogo entre Ucrânia e Rússia não impediram uma nova troca de agressões entre os países, culminando no avanço das tropas russas na região de Sumy, nordeste da Ucrânia. Quatro assentamentos na fronteira já estão sob controle russo.
No final de maio, o presidente ucraniano Volodimir Zelenski alertou que a Rússia estava preparando uma ofensiva na região. A incursão militar no nordeste da Ucrânia marca um novo momento da guerra entre os países já que, até agora, o exército russo havia se concentrado majoritariamente em ocupar territórios do leste e do sul do país vizinho.
A cidade de Sumy fica a 100 quilômetros da russa Kursk, que havia sido tomada pela Ucrânia em agosto do ano passado. Moscou retomou o controle da região nos últimos meses e passou a pressionar a fronteira nordeste ucraniana com repetidos ataques.
Entre eles, um bombardeio atingiu o centro de Sumy durante a Páscoa e matou 34 civis, segundo o ministério do Interior ucraniano. Um ataque a um ônibus com civis na região deixou outros nove mortos. Como resultado, as autoridades ucranianas ordenaram a evacuação de 11 vilarejos.
Segundo Zelenski, Moscou concentrou suas "maiores e mais fortes forças" na frente de Kursk, e que mais de 50 mil soldados se concentram perto da fronteira com Sumy. De acordo com mapas pró-Ucrânia de fontes abertas, a Rússia conquistou cerca de 450 quilômetros quadrados de território ucraniano em maio – o avanço mais rápido em pelo menos seis meses.
Naquele mês, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que pretendia criar uma "zona tampão" dentro do território da Ucrânia, que funcionaria como uma contenção para ataques de drones e incursões militares.
Ainda não está claro se a ofensiva em Sumy se trata de uma tentativa de estabelecer essa área de segurança ou de ocupar permanentemente mais um território ucraniano. Para Zelenski, a Rússia não tem capacidade de estabelecer qualquer tipo de "zona-tampão" de dez quilômetros no território ucraniano.
As "zonas-tampão" prometidas por Putin
Mykhailo Samus, especialista militar e diretor da New Geopolitics Research Network, acredita que os temores desencadeados pelo desejo de Putin de estabelecer uma "zona-tampão" na Ucrânia são "exagerados". Ele disse à DW que não foi a primeira vez que a Rússia anunciou tais intenções.
"Não há zonas-tampão lá, e não haverá nenhuma. Há repetidas tentativas russas de atacar o território ucraniano", disse Samus. "Um ano atrás, eles tentaram atacar toda a região de Kharkiv. Eles penetraram seis ou sete quilômetros de profundidade na área ao redor da cidade de Vovchansk. Um ano depois, podemos ver que [o avanço das tropas] parou por aí."
O especialista destacou que as forças do exército ucraniano também avançaram para as regiões russas de Belgorod e Kursk.
"Tanto as forças armadas ucranianas quanto as russas estão tentando capturar as posições mais vantajosas na área de fronteira, de onde podem realizar bombardeios e manter o controle operacional", explicou. Isso foi especialmente importante para "a condução de operações subsequentes, ou seja, para ocupar terrenos elevados, tirar proveito das características geográficas e se preparar da forma mais eficaz possível para novos desenvolvimentos".
De acordo com sua estimativa, a Rússia não tem atualmente tropas suficientes perto da fronteira para avançar profundamente no território ucraniano desocupado. Ele acrescentou que a ocupação de partes da região em torno de Sumy ainda não deu a Moscou uma vantagem tática. "[As forças russas] tentarão avançar em direção a alturas favoráveis", disse ele. "O exército ucraniano sabe disso e agirá contra elas."
A Rússia está tentando capturar Yunakivka?
De acordo com Ruslan Mykula, cofundador do serviço de inteligência ucraniano independente DeepState UA, os atuais ganhos territoriais russos em torno de Sumy ainda não são um "grande sucesso", considerando a superioridade de suas tropas em termos de números.
Ao mesmo tempo, ele vê risco de novos avanços. Em sua opinião, o principal alvo dos russos é o vilarejo de Yunakivka, que tem importância estratégica. O município próximo a Sumy fica localizado a sete quilômetros da fronteira e permite acesso a uma grande área florestal adjacente. "Se eles avançarem para a floresta, isso causará muitos problemas. Quem tiver a infantaria maior terá uma vantagem significativa aqui", diz Mykula.
O especialista acrescentou que a ocupação de Yunakivka criaria novos perigos para a população civil, já que a Rússia poderia lançar ataques de drones com visão em primeira pessoa (FPV) no centro da cidade de Sumy a partir de lá. "Poderíamos passar por uma situação como a de Kherson, Nikopol ou Kostiantynivka, onde os russos usaram esses drones para atacar ônibus e caminhões civis. É por isso que não devemos permitir que o inimigo chegue a Yunakivka", alertou Mykula.