Depois do assassinato de seu irmão em distúrbios antimuçulmanos, Pervez Qureshi viu os vídeos que, em sua opinião, incentivaram o surto de violência e semeiam o ódio nas redes sociais antes das eleições na Índia.

O superpopuloso país do sul da Ásia tem uma longa história de confrontos sectários entre a sua maioria hindu e a sua principal minoria religiosa, mas os analistas alertam que as novas tecnologias são utilizadas para acirrar estas divisões.

“Vídeos e mensagens são compartilhados no Facebook e no WhatsApp contendo linguagem inflamatória e incitação à violência”, disse Qureshi à AFP, relembrando o ataque contra seu irmão em fevereiro na cidade de Haldwani, no estado de Uttarakhand.

Desde que o primeiro-ministro Narendra Modi chegou ao poder, há uma década, quase mais 550 milhões de indianos têm acesso à Internet, segundo a Internet and Mobile Association of India (Associação de Internet e Celulares da Índia).

O primeiro-ministro, do partido nacionalista hindu Bharatiya Janata (BJP), é o favorito para conquistar um terceiro mandato nas eleições que começam em 19 de abril.

Parte de sua popularidade se deve à habilidosa campanha online de seu partido, que conta com milhares de voluntários elogiando suas conquistas.

O uso das redes por Modi “desperta o nacionalismo e o patriotismo entre os jovens em todos os cantos do país”, diz Manish Saini, líder da célula digital do partido em Uttarakhand.

– “Atmosfera de ódio” –

Mas críticos acusam a mídia e o aparato digital do BJP de inflamar o ódio.

Islam Hussain, líder comunitário na cidade de Haldwani, disse que as tensões já haviam aumentado antes do surto de violência em fevereiro.

Mensagens nas redes chamavam os muçulmanos de “forasteiros”.

“Diziam que, devido ao aumento da população muçulmana, a demografia social de Uttarakhand estava mudando”, diz Hussain.

“As células da direita na rede desempenharam um papel importante na criação de uma atmosfera de ódio contra os muçulmanos”, afirma.

Os distúrbios eclodiram depois que as autoridades disseram que uma mesquita havia sido construída ilegalmente.

Um grupo de muçulmanos tentou impedir sua demolição e atirou pedras em policiais, que responderam com golpes de cassetete e gás lacrimogêneo.

Residentes hindus apoiaram a ação policial, com frases religiosas e pedras na multidão.

As imagens dos tumultos proliferaram rapidamente na internet. Convocadas nas redes, multidões de hindus saíram às ruas. “É hora de dar-lhes uma lição”, dizia uma das publicações.

Qureshi afirma que seu irmão Faheem, 32 anos, foi assassinado por hindus que primeiro incendiaram seu carro.

– Mesmo padrão –

Saini, coordenador da ala jovem do BJP, garante que sua equipe de redes não incentiva a violência e que há uma ordem estrita para “não escrever contra a religião de ninguém”.

Ele explica que a equipe se mobilizou rapidamente no dia dos tumultos para fornecer informações, e não para agravar o problema.

Além disso, garante que a violência se limitou inicialmente à polícia e a um grupo muçulmano e culpa os opositores de Modi que promovem distúrbios para manchar a imagem do governo.

Os críticos discordam. Raqib Hameed Naik, do grupo de pesquisa Hindutva Watch, diz que a equipe digital do BJP alimenta o ódio contra as minorias e promove a agência nacionalista hindu do governo.

Este ativista, que documenta casos de discurso de ódio contra minorias religiosas, garante que as mensagens durante a violência em Haldwani seguiram um padrão já observado em outros tumultos.

“Primeiro, o discurso de ódio contra os muçulmanos por parte de um ativista ou político hindu cria o terreno fértil (…) Depois o discurso de ódio provoca um incidente”, explica Naik.

E, finalmente, os ativistas online do nacionalismo hindu “culpam os muçulmanos” pela violência.

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