ENERGIA Usina hidrelétrica virou reduto do Exército (Crédito:Divulgação)

O governo Bolsonaro virou uma espécie de quartel. Todo mundo armado, oficiais e soldados por todos os lados. A cada ano que passa, o número de militares ocupando cargos de confiança na administração pública, em postos estratégicos ou não, nos ministérios ou em estatais controladas pela União, aumenta de maneira vertiginosa. Nem na ditadura se viam tantos fardados das mais diversas patentes circulando pelo Planalto e pela Esplanada. Era de se esperar que Bolsonaro escolhesse seus pares da caserna para lhe acompanhar nessa trajetória ensandecida e obscurantista que é sua gestão. Mas há um evidente exagero e um desequilíbrio. Um perigoso nível de politização das Forças Armadas foi alcançado.

 

MERCADO Militares comandam distribuição de alimentos e investimento em pesquisa (Crédito:Divulgação)

Entre as 46 estatais que o governo comanda, 16 presidentes vieram do Exército, da Marinha, da Aeronáutica ou da Polícia Militar. No caso dos ministérios, há 11 chefes de pasta militares, inclusive gente que não entende de nada, como o general Eduardo Pazuello, especialista em logística que confunde o Amazonas com o Amapá e nem médico é, mas comanda a Saúde. Para os militares, o governo virou um novo campo de atuação profissional, onde há perspectiva de aumento de salário, benefícios e, principalmente, ganhos de poder e influência sem precisar se esforçar muito. A contrapartida é obedecer cegamente a Bolsonaro. “Não é bom para a instituição militar se aproximar do dia-a-dia da política, como está acontecendo”, diz o general Carlos dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo. “O governo deveria buscar um equilíbrio na representação da sociedade e não privilegiar nenhum grupo”.

A última indicação de um militar para chefiar uma estatal foi a do presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, que, se aprovado pelo Conselho de Administração da companhia, vai substituir o economista Roberto Castello Branco. Ele chega para comandar o novo aparelhamento da empresa, como fez na Itaipu Binacional, que chefiou nos últimos dois anos e onde oficiais da ativa e da reserva tomaram conta. A Petrobras está tendo o mesmo destino de outras estatais como o Correios (coronel Floriano Peixoto Vieira Neto), Ceagesp (coronel PM Ricardo de Mello Araújo), Finep (general Waldemar Barroso, Infraero (tenente-brigadeiro Hélio de Barros Júnior ) e Itaipu ( general João Francisco Ferreira, que substituirá Silva e Luna). O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é o contra-almirante Antônio Barra Torres.

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Recorde de militares

A mudança na Petrobras remete à ditadura. Desde 1988 não havia um militar no comando da companhia — o último foi o coronel Ozires Silva. Sob os efeitos da crise do petróleo, a empresa passou por uma reorganização a partir de 1973, que se consolidou no governo de Ernesto Geisel. A estrutura só desabou completamente e saiu da mãos dos militares no governo FHC, a partir de 1994. Uma nova estrutura viciosa, porém, foi criada, dessa vez civil, para ser mais uma vez aniquilada com o Mensalão e o Petrolão. Para os militares, a nomeação de Luna e Silva representa o começo de um novo ciclo virtuoso de poder.

Em relação à ex-presidente Dilma Rousseff, o governo já duplicou, oficialmente, o número de militares da ativa em seus quadros, que era de 2.957, em 2016, e saltou para 6.157, no ano passado, o que representa um aumento de 60%, segundo levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU). Desse total, metade é da ativa e metade da reserva. Os dados da ativa são oficiais e mais fáceis de informar, mas os da reserva não são centralizados. Levantamentos extra-oficiais dão conta de que o número total de militares no governo já passa de 11 mil.

Para colocar militares nesses cargos, deixam de ocupá-los funcionários públicos concursados. Além disso, cada militar da ativa na administração recebe uma bonificação salarial de 30% e vantagens na aposentadoria. Se comparado aos tempos da ditadura, o governo atual continua ganhando no número de ministros com farda.

Atualmente, dos 23 ministérios, 11 são ocupados por militares, incluindo áreas como Saúde, Educação (segundo-tenente Milton Leite) e da Ciência e Tecnologia (tenente-coronel Marcos Pontes). O secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, também deve der substituído em breve pelo almirante Flávio Rocha. Mesmo na ditadura, não houve tantos integrantes das Forças Armadas no governo. Nesse quesito, Bolsonaro só foi superado por Castelo Branco, que teve 12. A militarização da máquina pública bateu recorde na atual presidência e só dá sinais de crescimento. O problema que já está no horizonte é o desgaste da imagem das Forças Armadas que pagarão um preço alto pelos erros de Bolsonaro.