A ajuda ao desenvolvimento concedida pelos países industrializados aumentou 8,9% em 2016 e chegou a US$ 142,6 bilhões, devido principalmente à crise dos refugiados na Europa, mas as contribuições aos países mais pobres continuam a recuar – revelam dados publicados nesta terça-feira (11) pela OCDE.

As quantias destinadas a ajudar os refugiados, que vivem o maior deslocamento em massa de pessoas desde a Segunda Guerra Mundial, cresceram 27,5% em 2016, passando de US$ 12,1 bilhões para US$ 15,4 bilhões, segundo o comunicado divulgado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Mesmo excluindo-se essa categoria a ajuda ao desenvolvimento aumentou em 7,1% e dobrou desde o ano 2000.

Os Estados Unidos continuam sendo o maior doador do mundo, com US$ 33,6 bilhões de ajuda ao desenvolvimento, seguido por Alemanha (US$ 24,7 bilhões) e Reino Unido (US$ 18 bilhões).

No entanto, a posição dos Estados Unidos pode mudar. Em um projeto de orçamento do mês passado, o novo presidente Donald Trump propôs reduções expressivas da ajuda externa como parte de sua abordagem “America First” (“América primeiro”).

Na direção contrária, a OCDE informou que “a ajuda bilateral para o grupo de países menos desenvolvidos foi de US$ 24 bilhões em 2016, uma queda de 3,9% em relação a 2015”, acrescenta a nota.

“É inaceitável – mais uma vez – que a ajuda aos países mais pobres esteja em regressão”, condenou o secretário-geral da OCDE, Angel Gurria, citado no comunicado.

A África se viu particularmente afetada por uma queda na assistência bilateral de 0,5%, a 24 bilhões de euros.

Apenas os seis países da OCDE – Alemanha, Dinamarca, Luxemburgo, Noruega, Reino Unido e Suécia – atingiram em 2016 a meta estabelecida pelas Nações Unidas de manter a Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD) a um nível igual ou superior a 0,7% de seu Produto Interno Bruto (PIB).

A APD teve um forte crescimento (+36,1%) na Alemanha. Este país duplicou a ajuda aos refugiados em um ano. Em relação a essa categoria de ajuda, a Alemanha investiu US$ 6,2 bilhões, muito mais do que os Estados Unidos (US$ 1,7 bilhão), ou a Itália (US$ 1,7 bilhão), por exemplo. Na França, o avanço foi mais modesto (+4,6%). Os franceses dedicaram US$ 428 milhões a essa rubrica.

Os principais contribuintes são EUA (US$ 33,6 bilhões), Alemanha (US$ 24,7 bilhões), Reino Unido (US$ 18 bilhões), Japão (US$ 10,4 bilhões) e França (US$ 9,5 bilhões).

“Não há nenhuma razão válida para explicar esse atraso da França, sobretudo, quando se compara aos nossos vizinhos alemães. O próximo quinquênio deve ser aquele em que se verá a França reencontrar seu lugar na cena internacional e retomar suas responsabilidades”, reagiu em uma nota a diretora da filial francesa da ONG One, Friederike Röder.

“Fazer da ajuda ao desenvolvimento uma ferramenta de controle dos fluxos migratórios, uma ferramenta de diplomacia econômica, ou um dispositivo ditado por lógicas securitárias sobrecarrega o funcionamento da ajuda”, lamentou Elsa Pietrucci, da organização Action contre la Faim (ACF).

A ACF lembra que, em 2010, a APD da França chegava a 0,5% do PIB contra o atual 0,37%.

Juntamente com as ONGs Action Santé Mondiale, Care France e One, a ACF publicou um comparativo de programas de 11 candidatos na disputa pela Presidência da França, apresentando seus compromissos em matéria de ajuda ao desenvolvimento.

Apenas quatro deles (Benoît Hamon, Nicolas Dupont-Aignan, Jean-Luc Mélenchon e Jacques Cheminade) se comprometeram a elevar a ajuda francesa para 0,7% do PIB antes do fim do próximo quinquênio, revela a ONG One.