Cada vez que vai para uma cama de hospital, o presidente Jair Bolsonaro deve pensar que sua força política aumenta, assim como suas chances de reeleição. Agora, ele está na sua posição preferida: a de vítima de uma doença traiçoeira, a obstrução intestinal, seqüela da facada que tomou. Além disso, a internação no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, na madrugada de hoje, é uma posição que lhe permite sumir do mapa e ficar em silêncio. Pelo menos durante alguns dias, ele deixará de ofender os brasileiros atingidos pela Covid-19 e de exercitar seu negacionismo a céu aberto. Também não terá que dar explicações sobre suas tolices para ninguém. Nada mais adequado para Bolsonaro neste momento do que se manter quieto e em tratamento médico depois de fazer um monte de bobagens nas viagens de fim de ano para Santa Catarina e revelar sua irresponsabilidade mais uma vez, ignorando o sofrimento do povo atingido pelas enchentes na Bahia.

Veja também

+ Que o homofóbico vá pedir emprego a Bolsonaro e viver na Bolsolândia, longe da civilização
+ Sem saber que está ao vivo, Bolsonaro fala sobre propina e ‘preço’ de vaga no STF
+ Marisa Orth é detonada por postar vídeo em que Marília Mendonça critica Bolsonaro

Parece até que tudo é programado. Num movimento escapista, o presidente vai para um centro de saúde esperar a poeira baixar para depois voltar com tudo, de maneira heroica, escapando de um risco fatal e animando seus eleitores mais fanáticos. Nas eleições passadas foi assim: com o intestino doente ele ganhou a eleição. Não fossem os benefícios políticos conquistados com a facada, que vem sendo insistentemente lembrada por causa dessa nova internação, sua trajetória teria sido muito diferente. Fora dos debates, escondido dos adversários e, principalmente se colocando no papel de vítima, Bolsonaro conseguiu conquistar votos que jamais viriam se ele estivesse saudável. Doente, ele é um lobo em pele de cordeiro. Seu sofrimento não é capaz de comover, porque sempre pairam dúvidas sobre sua condição real, e faz pensar que tudo pode fazer parte de uma armadilha política.

É bem provável que Bolsonaro aposte na mesma fórmula eleitoral-intestinal que o levou à vitória em 2018. Não será surpresa se, nos próximos meses, ele passar mais tempo no hospital do que governando. E quanto mais próximas ficarem as eleições, maiores serão suas complicações e mais frequentes as menções à facada que o vitimou em 2018. Pela sua ótica deturpada, a sua doença é a única que importa. Em respeito às famílias dos enfermos da Covid-19 e aos quase 620 mil mortos no Brasil, ele não demonstra qualquer sentimento de solidariedade ou empatia. Tudo gira em torno do seu intestino e ele quer colocá-lo no centro das eleições deste ano. Bolsonaro é um desalmado que vive implorando piedade. Mas, dessa vez, sua estratégia não vai dar certo. Ninguém mais vai ter pena de um sujeito que despreza a vida humana e faz chacota com a doença dos outros. O eleitor vai se lembrar disso.