Todo dia começa igual para a zagueira Lauren, de 16 anos, capitã do time sub-17 do São Paulo: ela acorda às 6h30, vai para a escola, almoça e segue para o local de treinamento, seja no Morumbi ou no Centro Olímpico do Ibirapuera, que recebe alguns treinos das meninas. Trata-se de uma rotina aparentemente normal, não fosse por um “detalhe”: ela mora em Votorantim, cidade do interior paulista. Da porta da sua casa, no Parque Jataí, até os locais de treinamento, são cerca de 120 km, ou seja, 240 km de distância ida e volta para manter vivo o sonho nutrido desde pequena, de ser uma jogadora de futebol.

“A única situação que não é correta, mas por causa da minha situação financeira, é que eu a trago de moto, que é um risco grande tanto em São Paulo quanto na estrada. Esse é o meu maior medo. Se eu sofrer um tombo, a carreira dela pode estar indo embora. Mas espero que a partir de 2019 isso mude por causa do novo projeto do São Paulo que vai alojar algumas meninas. Ela está dentro dessa possibilidade”, diz o pai da atleta, Erymar Costa, de 41.

O projeto ao qual Erymar se refere é o novo time profissional feminino do São Paulo, que começou a ser formatado em outubro, quando 470 candidatas passaram por peneiras. A partir de 2019, todos os clubes que disputarão torneios organizados pela Conmebol – caso do São Paulo, classificado para a pré-Libertadores – precisarão obrigatoriamente contar com times femininos profissionais ativos. É uma regra da entidade.

A equipe sub-17 já existe desde o ano passado, quando foi feita uma parceria com o Centro Olímpico, que resultou nas conquistas dos torneios equivalentes ao Paulista, Brasileiro e Libertadores da categoria. A partir deste ano, o elenco passou a ser próprio do São Paulo.

Lauren, capitã e presença constante nas seleções de base do Brasil – esteve no Sul-Americano e no Mundial Sub-17 deste ano -, tem boas chances de ser integrada ao profissional e ganhar uma vaga no futuro alojamento, ainda sem local definido. Seria o fim de uma estafante rotina que já dura quatro anos.

“É muito desgastante. E não só a viagem para ir e voltar. Além de chegar em casa cansada do treino, ainda tenho de estudar para provas porque perco muitas aulas e preciso repor de alguma forma. Vou dormir muito tarde, acordo cedo. Quando chega o fim de semana, estou esgotada”, admite a atleta.

SONHO – Desde pequena, Lauren já se metia a jogar com os meninos do seu bairro. Passou por escolinhas até o pai perceber que a brincadeira tinha virado coisa séria. Foi quando descobriu o Centro Olímpico e trouxe a menina à capital para uma peneira. Passou no primeiro dia.

“Ela não falta a nenhum treino, nunca faltou. Se eu não posso vir, pago para um cunhado para trazê-la com o meu carro, peço para o meu irmão… Alguém traz! Mas para vir (de carro) todo dia, não dá, o custo é alto”, admite Erymar, que, curiosamente, já estava acostumado a pegar a estrada diariamente: ele trabalha dirigindo os veículos de resgate que circulam pelas rodovias estaduais.