14/09/2019 - 7:00
Um ídolo não existe como tal sem a presença dos fãs. A devoção muitas vezes sem limite eleva a temperatura da fama, transformando seres normais em quase entidades. Pois é a noção da importância dessas pessoas, que não medem esforços para estar próximas de quem veneram, que convenceu a equipe criativa do musical Isso que É Amor, que estreou no Teatro das Artes, a convidar 20 fãs para participar, no palco, do final de cada uma das sessões.
“São pessoas que tiveram importante papel no desenvolvimento do espetáculo”, atesta o produtor Gustavo Nunes. “Durante os ensaios, recebemos a visita de fãs que fizeram observações pertinentes, como o uso correto de frases e até do desenrolar de algumas cenas.”
Tamanha preocupação se explica em torno de um único nome: Luan Santana. A vida e a trajetória artística do cantor e compositor sul-mato-grossense, que está com 28 anos, inspiraram a criação de Isso que É Amor que, se não é biográfico, é um musical que fala das diferentes maneiras de se gostar, ambientado no mundo pop.
O espetáculo acompanha o momento decisivo vivido por Gabriel Lucas (Daniel Haidar), jovem cantor popstar que vive em busca de uma musa inspiradora, especificamente uma que povoa seus sonhos. Durante uma turnê, quando visita uma cidade do interior, ele descobre Leona (Isabel Barros), garota que, graças à sua paixão pela natureza, desconhece o universo glamouroso que rodeia Gabriel.
Naquele lugar, também despontam figuras distintas, como o fotógrafo Fernando (Nicolas Ahnert), rapaz que vive um conturbado relacionamento com Leona, enquanto busca desenfreadamente o sucesso. Também Deise (Pâmela Rossini), presidente do fã-clube do cantor, uma menina ciumenta e possessiva. Ou ainda Maria (Isabella Bicalho), mulher que adota métodos peculiares na criação de sua filha.
“Além de ser uma viagem pelo repertório de Luan, é uma história de diversas formas de amor”, conta Rosane Lima, autora do roteiro final, que foi desenvolvido a partir das músicas do cantor. “O amor juvenil de Gabriel Lucas e Leona, o amor devotado de Maria por sua filha, o amor apaixonado das fãs pelo seu ídolo, o amor torto de Fernando.”
Rosane partiu de um argumento escrito por Gustavo Nunes, que partiu da ideia a respeito da poética de Luan Santana e sua influência no imaginário de seus fãs. Isso que É Amor é narrado por meio da apresentação de 25 canções do artista, como Meteoro, Escreve Aí, Chuva de Arroz, Vingança e Sinais, entre outras canções do vasto repertório do músico. “Escolhemos desde trabalhos de seu início de carreira, aqueles que Luan nem voltou a gravar, até a sucessos recentes”, explica Nunes.
“O espetáculo não tem relação com a vida do Luan, mas sim com o imaginário romântico desse popstar que estará no palco com as suas canções recriadas”, observa Ulysses Cruz, que assina a direção artística.
Criador inquieto, sempre em busca das soluções mais inusitadas que contribuam para a originalidade do espetáculo, Cruz se apoiou nas diversas facetas do romantismo evocadas nas canções de Luan. “A história foi construída a partir da escolha das músicas mais representativas da carreira dele, em todas as suas fases. O contexto delas é que nos interessa e nos ajuda a construir o mundo em torno de cada um dos personagens. Rosane Lima foi ao imaginário das canções do Luan, para construir essa história.”
Para ele, o grande desafio foi criar um espetáculo palatável para todos os fãs – Gustavo Nunes se impôs a meta de trazer para o teatro as pessoas que só frequentam os shows -, mas que trouxesse também uma curva dramática ao exibir o rito de passagem que marca Gabriel Lucas: em sua insatisfação com o tipo de música que vinha criando, o jovem cantor atinge a maturidade (pessoal e artística) quando descobre o valor da depuração.
“O espetáculo fala desse rito de passagem, dos amigos que não crescem e vão ficando para trás, do encontro com a musa inspiradora que vai transformá-lo numa pessoa mais completa e, portanto, num artista melhor. É disso que trata o espetáculo”, comenta Ulysses.
E, para diferenciar de um show, o musical apresenta as canções de Luan Santana com sonoridades que, se não traem o original, aproximam a história desse gênero teatral. Ou seja, as canções ajudam a contar a narrativa. “E não podem ser tocadas no palco como são executadas em um show”, continua o diretor, que descobriu o caminho no trabalho com Guilherme Terra, responsável pela direção musical, preparação vocal e arranjos do espetáculo.
Assim, até os mais fanáticos pela obra de Luan Santana vão se surpreender com suas músicas sendo apresentadas em ritmos como tango, jazz, salsa e até moda de viola.
Acompanhando todos os passos do projeto, Luan Santana aprovou as medidas, mesmo sem ter visto nenhuma cena, graças à sua carregada agenda de shows pelo País.
ISSO QUE É AMOR
TEATRO DAS ARTES.
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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.