O ateliê do designer Luis Fernández no centro histórico de Sevilha é movimentado. As clientes se juntam neste local para experimentar os vestidos tradicionais do flamenco, trajes regionais com babados e cores vivas utilizados pelas mulheres nas festas populares da Andaluzia.

Virginia Cuaresma é uma delas. Ela experimenta um vestido azul mais tradicional, com babados nas mangas e na saia, e com um xale bordado combinando.

“Agora está um caos, o ateliê está lotado (…) Estas são as últimas provas” antes da feira, diz Fernández, fazendo referência à Feira de Sevilha, que costuma atrair milhares de pessoas e acontece entre os dias 14 e 20 de abril.

Com uma história de mais de um século, esta vestimenta muito justa que as mulheres complementam com um xale nos ombros, brincos, pulseiras e cabelos presos num coque e com uma flor, tornou-se o traje regional da Andaluzia, sendo visto internacionalmente como um símbolo da Espanha.

“Quando escolho um vestido para ir à feira, (procuro) que a silhueta feminina seja valorizada”, diz Cuaresma, uma geógrafa de 34 anos para quem estes são uma forma de “continuar com as tradições andaluzas” e “se conectar” com sua falecida avó Virginia, que fazia estes trajes quando ela era pequena.

É uma vestimenta regional única “que evolui com a moda, a única que admite novas tendências”, disse Fernández.

Os vestidos são herdados dos trajes “majas”, imortalizados nas pinturas de Francisco de Goya, que no século XVIII e início do XIX “eram usadas pelas classes populares da Espanha”, explica à AFP a antropóloga Rosa María Martínez Moreno.

Com o início das feiras em meados do século XIX, o traje passou às classes mais ricas, na época de uma moda mais aristocrática. Já no século XX, a vestimenta adotou o formato atual e se popularizou, sobretudo devido à profissionalização do flamenco como arte e à expansão das academias de dança andaluzas, onde as mulheres aprendiam para depois se apresentarem na feira, detalha Martínez Moreno.

Segundo a antropóloga, o vestido flamenco começou a ser reconhecido como um símbolo da Espanha devido a utilização de “estereótipos populares” pela ditadura de Francisco Franco (1939-1975), que se propôs a “vender a Espanha como atração turística”.

Nas últimas décadas, a vestimenta experimenta uma “dicotomia entre o tradicional e o moderno”, tendo sido inspiração de grandes marcas como a Dior, acrescenta Martínez Moreno.

Um vestido de um ateliê como o de Fernández pode custar desde centenas de euros até mais de mil, mas há opções mais baratas. Um alívio para as mulheres que, como Virginia, costumam adquirir pelo menos um por ano para não repeti-los, diz ela, que tem cerca de 34 deles.