José Múcio Monteiro sabe que nos primeiros dias à frente do Ministério da Defesa não pode fazer nada que desagrade os militares, sobretudo quanto aos projetos que os fardados mais estimam. Não quer azedar as relações. Por isso, não vai mexer, por ora, nos programas das escolas com ensino militar — cujo andamento não é bem visto pelos petistas. E, apesar da falta de recursos, dará prosseguimento aos planos estratégicos das Três Forças, como o caça Grippen e o cargueiro KC-390, da FAB; o blindado Guarani, do Exército; e os submarinos nucleares, da Marinha. Outra questão delicada é como enfrentar o desproporcional número de oficiais no governo. Com Bolsonaro, 8 mil militares desfrutavam de regalias no governo e uma das missões de Múcio será a desmilitarização do poder.

Punições

O que mais preocupa Lula diz respeito à ordem nos quartéis. No governo Bolsonaro, os militares participavam de atos antidemocráticos e emitiam opiniões políticas nas redes, infringindo o código militar, sem que nenhuma punição lhes fosse imposta. Agora, haverá sanções a quem quiser fazer política usando a farda. Cada um no seu quadrado.

Comando

Múcio, contudo, é conhecido por sua habilidade política desde o tempo em que militava em partidos mais à centro-direita, e, principalmente, no período em que presidiu o TCU. Para evitar resistências ao seu nome, o novo ministro adotou o critério da antiguidade para escolher os novos comandantes das Forças Armadas, que devem ter a posse antecipada.

Negros em minoria

Lu Valiatti

A diversidade deve deixar a desejar na Esplanada de Lula. A tendência é que negros ocupem somente quatro ministérios dos mais de 30 que funcionarão na próxima gestão. A escalação de Lula conta com Marina Silva, no Meio Ambiente; Silvio Almeida, nos Direitos Humanos; Nilma Lino Gomes, na Igualdade Racial; e Margareth Menezes, na Cultura. A cantora baiana foi escolha de Janja e teve o apoio de Caetano Veloso.

Time de Haddad

É consenso no mercado que Haddad só terá sucesso na Fazenda se ele se cercar de uma equipe econômica competente e, sobretudo, se estiver alinhado com um ministro do Planejamento de maior relevância. O ideal era Persio Arida, mas ele se recusou a largar a iniciativa privada, onde é muito bem-sucedido, para voltar ao governo. O próprio novo ministro já está consciente da importância dessa simbiose e passou os últimos dias na montagem do seu time de secretários. Na terça-feira, 13, escolheu Gabriel Galípolo como secretário-executivo. Outros economistas de SP estão cotados, como Guilherme Mello e Marcos Cruz, que foi seu secretário de Finanças na prefeitura paulistana.

O silêncio de Ciro

Ciro Gomes entrou mudo e saiu calado da reunião de 6 de dezembro em que o PDT fechou questão sobre a reeleição de Arthur Lira ao comando da Câmara. Ciro somente acenou com o apoio silencioso, embora, na campanha, tenha chamado o deputado de “bandido”. De camiseta e boné, o pedetista, que está nos EUA, participou do encontro de forma virtual.

Aloisio Mauricio

Reforma Tributária

Como tornou-se impositiva a necessidade de o governo Lula formatar, até agosto, um novo arcabouço fiscal para substituir o finado teto de gastos, Haddad vai ter que correr contra o tempo. Quer tocar a Reforma Tributária paralelamente ao novo regime fiscal e para isso levará Bernard Appy para Brasília.

Feridas abertas

Antes de viajar, Ciro recebeu Carlos Lupi no Ceará. O presidente do PDT foi ao estado para apaziguar a briga dos irmãos Gomes — os dois estão rompidos desde quando Cid embarcou na candidatura de Elmano Férrer ao governo local, escanteando Roberto Cláudio, escolhido de Ciro. Não deu certo. Lupi contou a aliados que as feridas seguem abertas.

A boquinha de Léo Índio

Pedro Ladeira

Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, deve ganhar novo emprego público no Senado. Primo dos filhos de Bolsonaro, já passou pelos escritórios de Chico Rodrigues, flagrado com dinheiro na cueca, e da liderança do partido no Salão Azul, embora nunca fosse visto trabalhando. Léo afastou-se do cargo em julho para concorrer a deputado distrital no DF, mas saiu derrotado.

Retrato falado

“Precisamos trazer o Brasil de volta ao cenário internacional” (Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Mauro Vieira, novo ministro das Relações Exteriores, disse ao “Estadão” que o primeiro passo do novo governo será reinserir o Brasil no centro das decisões mundiais. Segundo ele, durante o governo Bolsonaro o País perdeu o seu protagonismo no mundo. Embaixador na Croácia, ele é ligado ao ex-chanceler Celso Amorim, amigo de Lula, e deverá ter Maria Laura da Rocha, embaixadora na Romênia, como secretária-geral do Itamaraty. Negra, será a primeira mulher no posto.

Toma lá dá cá

Izalci Lucas, líder do PSDB no Senado (Crédito:Jefferson Rudy)

O extremismo promoveu episódios de terror em Brasília. As autoridades foram coniventes?
Faltou prevenção, porque todos sabiam que a data de diplomação seria sensível. Agora, é preciso investigar quem promoveu a arruaça. Eram bolsonaristas? Os culpados precisam ser presos.

Há espaço para o PSDB retomar o protagonismo na oposição a Lula?
O caminho está aberto. O eleitor precisa de alternativa. Seremos o que faltou nos últimos anos: uma oposição responsável.

O que acha da possibilidade de votar o Orçamento apenas em 2023?
Há tempo hábil para submeter ao plenário antes do recesso. O Orçamento sempre é votado quase que de forma simbólica e precisamos iniciar o próximo ano focados numa âncora fiscal.

Rápidas

* Integrantes da transição até topam conversar com o procurador-geral da República, Augusto Aras, desde que a vice-procuradora Lindôra Araújo deixe o cargo. Ela é considerada bolsonarista e os petistas querem substituí-la já, enquanto Aras tem mandato até setembro.

* O ex-deputado Daniel Silveira não conseguiu se eleger para o Senado pelo PTB do Rio, mas já arrumou uma boquinha para voltar ao Congresso. O senador Magno Malta (PL-ES) vai nomeá-lo como assessor em seu gabinete.

* Recém-eleito senador, Renan Filho não deverá se sentar ao lado do pai, Renan Calheiros, no plenário do Senado. O jovem senador deve ser ministro das Minas e Energia de Lula, enquanto o velho Renan fica no Salão Azul.

* Alexandre de Moraes deu uma trégua aos seus detratores na Câmara e desbloqueou as contas nas redes sociais de vários deputados bolsonaristas, como Major Vitor Hugo, Gustavo Gayer e Nicolas Ferreira, todos do PL.