Há 40 anos, Carlos Rennó realiza um trabalho importante na música brasileira como letrista. São suas, por exemplo, as letras de canções populares, como Façamos (Vamos Amar), versão de Let’s Do It (Let’s Fall in Love), de Cole Porter – que foi gravada em dueto por Elza Soares e Chico Buarque -, e Escrito Nas Estrelas (dele e Arnaldo Black), que teve interpretação arrebatadora de Tetê Espíndola no Festival dos Festivais de 1985. Rennó é parceiro de outros muitos nomes, como Gilberto Gil, Rita Lee, João Bosco, Lenine, Chico César, só para citar alguns.

Mas como Rennó não é músico nem intérprete, sua produção se dá essencialmente nos bastidores. O que, muitas vezes, ele próprio lamenta, o torna desconhecido do público. “Uma coisa que acontece muito é não saberem que certa canção é minha e, entre essas pessoas, estão muitos amigos meus que gostam de canções minhas. Isso é supercomum, porque realmente o autor não aparece, não aparece na internet, aparece só o nome do cantor, as rádios não dão crédito”, comenta Rennó, também jornalista e escritor, em entrevista ao Estado, na sala de seu apartamento em Pinheiros, em São Paulo, cercado por seus amados livros.

Mesmo assim, ele não quis lançar agora um disco com seus sucessos – embora deseje fazer um projeto assim. Rennó preferiu investir em um outro projeto, um disco e um livro, a princípio, pensados juntos. Os dois acabaram sendo lançados separadamente: o disco Poesia – Canções de Carlos Rennó, pelo Selo Sesc, e o livro Canções, pela editora Perspectiva. Apesar disso, ambos ainda mantêm sua conexão pelas letras, pela potência poética da escrita de Rennó. “O repertório do disco ficava definido por canções cujas letras apresentavam aspecto mais literário, já que o disco ia sair junto com o livro. Isso eu mantive. Daí também esse título meio provocativo de Poesia para o álbum e o livro se chamar Canções. Mas Canções como título para o livro não é somente porque se trata de letras de música, mas também porque ‘canção’ foi o termo usado para poemas escritos no momento da história da poesia em que ela esteve mais próxima da música, que é o período da Alta Idade Média, em que floresce a arte trovadoresca. Na sua origem, os poemas eram cantados.”

No livro, além das letras das músicas existirem por si só, como poemas, há 17 músicas que podem ser ouvidas digitalmente. No disco, Rennó reuniu 16 músicas, entre inéditas e regravações, ligadas entre si por temas ou aspectos formais das letras. Há as já conhecidas Pintura (2008), parceria com João Bosco, com o próprio João Bosco no vocal e no violão, e Todas Elas Juntas Num Só Ser (2004), de Rennó e Lenine, com Lenine ao violão, e um grupo vocal poderoso formado por Ellen Oléria, Felipe Cordeiro, Junio Barreto, Leo Cavalcanti, Pedro Luís e Wilson Simoninha. Entre as inéditas, está Hidrelétricas Nunca Mais, em parceria com Felipe Cordeiro, que entra na seara de canções ecológicas tão marcantes na obra de Rennó.

Aliás, a escolha do repertório também levou em consideração seus parceiros musicais, celebrados no disco. O que ajudou a sedimentar ainda mais o conceito do trabalho. “Como tenho muitos parceiros – apesar de alguns dividirem comigo a autoria de um número maior de canções -, eu quis que cada um aparecesse com uma canção apenas”, diz. Assim, Carlos Rennó mostra parcerias ainda com Zeca Baleiro, em Nova Trova; Arnaldo Antunes, na canção de amor erótica Nus; Arrigo Barnabé, em Outros Sons; Gilberto Gil, em Átimo de Pó; Chico César, em Seta de Fogo (A Canção de Teresa), entre outras. E assim como aconteceu com Bosco, Lenine e Cordeiro, ele traz esses outros parceiros para o álbum em participações especiais como cantores e/ou músicos em suas respectivas faixas.

Além dos parceiros musicais de anos, Rennó está trabalhando com compositores de novas gerações, incluindo Rincon Sapiência, Marcelo Jeneci e Chico Brown, neto de Chico Buarque. “Não tenho produção grande, trabalho muito. Então, às vezes, me pedem letra e digo ‘olha, tem três na frente, se você tiver paciência de esperar’. Isso pode durar meses. Agora comecei a compor com o Chico Brown. O Jaques Morelenbaum foi o primeiro a me falar sobre ele. Aí saiu o disco do avô dele (Chico Buarque), e a faixa Massarandupió é linda e um dos momentos mais bacanas do show. Falei isso para o Chico Buarque. Ele me incentivou a compor com o neto dele. Disse: ‘Ele está precisando de bons letristas’. Tive um encontro com o Brown e gostei dele pessoalmente”, conta.

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Brown lhe deu três valsas para colocar letra. “Fizemos uma que tem essa temática socioambientalista, chama-se Triste Estrutura. Combinei com ele de fazer outra, mas já tem uma música que o Jeneci me deu. Fiz com a Roberta Campos também. Adoro trabalhar com pessoas de gerações diferentes, porque na minha vida também é assim: tenho amigo de 90 anos e de 20 anos.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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