O último pingo de credibilidade do governo federal evaporou com o anúncio da manobra que vai criar o “Auxílio Brasil”, com um dinheiro que, até agora, ninguém entendeu bem de onde virá. Sugere-se que é da PEC dos Precatórios, o que significa que o governo estará dando um calote nas suas dívidas com os brasileiros apenas para tentar bancar a reeleição de Bolsonaro. Por muito menos, o congresso tirou Dilma Rousseff do cargo. É claro que ninguém é contra dar um benefício de R$ 400 para a população carente do País, que está cada vez mais pobre. O paradoxo é que esse dinheiro será, certamente, o catalisador de uma crise econômica ainda maior – que vai sobrar, obviamente, para quem tem menos.

Dizem que o Brasil tem um ministro da Economia, mas o senhor que ocupa oficialmente o cargo deixou de comandar a área faz tempo. Quem manda na pasta – e em todas as outras, diga-se de passagem – é o próprio presidente Jair Bolsonaro. Infelizmente, ele entende tanto de economia quanto de educação, ciência ou meio ambiente, ou seja: nada. Na sua cabeça, há uma única obsessão: fazer qualquer coisa para ser reeleito, inclusive quebrar o País, se for necessário. A ideia de dar R$ 400 para 17 milhões de famílias lhe dá a esperança de evitar ser preso junto com o resto de sua família, o que inevitavelmente acontecerá no dia seguinte em que ele perder o foro privilegiado.

Paulo Guedes adora posar de czar da economia, mas o liberalismo que ele anunciava com a boca cheia para os Faria Limers era só da boca para fora, como vemos hoje. Guedes mostra que não tem apreço por filosofia alguma, apenas pelo cargo. Se tivesse o mínimo de respeito por sua própria biografia, já teria pedido demissão faz tempo.

Foi o que fizeram o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, além da secretária especial adjunta do Tesouro e Orçamento, Gildenora Dantas, e o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rafael Araújo. Esses profissionais devem ter cansado de trabalhar não para dar o benefício aos mais pobres, mas para que o País possa bancar o orçamento secreto do deputado Arthur Lira. Entre Guedes e o Centrão, já sabemos quem ganhou. E quem perdeu: o resto do Brasil.

Dinheiro não dá em árvore. Ao estourar o teto de gastos, o governo sinaliza para o mercado que não está nem aí para a inflação, honestidade fiscal ou a própria estabilidade da economia. “Se fizermos muita besteira, o dólar chega a R$ 5”, disse Guedes em março de 2020. O dólar chegou hoje a R$ 5,75. Precisa de uma confissão maior de que esse governo só faz besteira?