Na propaganda que anunciava a inauguração do Hopi Hari, em novembro de 1999, a chamada se referia ao parque como “o país mais divertido do mundo”. De fato, por alguns anos, o slogan fez jus ao que as atrações, a 72 quilômetros de São Paulo, no município de Vinhedo, ofereciam. O empreendimento ergueu-se gradativamente e se tornou um polo de diversão, atraindo turistas de todo o País. No auge, em 2011, as projeções eram as melhores: recebia 2 milhões de visitantes, investia R$ 150 milhões em novidades e pularia de 58 atrações para 65 em um ano. Também assinou um contrato de licenciamento com a Warner Brothers para usar os personagens das marcas Looney Tunes e DC Universe, os super heróis da Liga da Justiça.

Naquele momento, a marca estava se consolidando. Mas, no meio do caminho, houve um acidente. Em 2012, uma adolescente de 14 anos caiu de um brinquedo que despencava de uma altura equivalente a 23 andares após a trava de segurança do assento se abrir. A tragédia abalou a credibilidade do lugar. Ainda que o parque seguisse firme na tentativa de se reerguer, o número de visitantes caiu, bem como o de investimentos. Os prejuízos só aumentavam, até que, em agosto de 2016, com uma dívida de R$ 300 milhões, a administração pediu recuperação judicial. Menos de um ano depois, especula-se que esse valor mais que dobrou. Com contas atrasadas e sem pagar salários dos funcionários, um dos maiores parques da América Latina anunciou, na sexta-feira 12, fechamento por tempo indeterminado. “Estamos apenas fazendo uma breve pausa para respirar e voltar à luta com mais força”, afirma, em nota, o presidente José Luiz Abdalla.

AUGE Nos tempos áureos, o Hopi Hari recebeu 2 milhões de visitantes em um ano
AUGE Nos tempos áureos, o Hopi Hari recebeu 2 milhões de visitantes em um ano (Crédito:Divulgação)

Uma série de infortúnios posteriores ao acidente de 2012 manchou a marca e impossibilitou o empreendimento de recuperar o sucesso dos tempos áureos. Era como se, a cada tentativa de limpar a imagem, um novo acontecimento fizesse um visitante em potencial pensar duas vezes antes de se aventurar pelos brinquedos. Ainda em 2012, veio à tona o caso de uma menina de 18 anos que, aos 14, havia sofrido deslocamento cerebral ao andar em uma das principais atrações do parque, a montanha-russa Montezum. A jovem ficou em coma e a família processou o Hopi Hari. Novos problemas apareceram em 2014, quando um grupo fez um arrastão e, após uma situação de tumulto e correria, seis pessoas foram encaminhadas ao hospital com ferimentos leves. Menos de um mês depois, mais um caso de roubos em série cometido também por um bando de criminosos. Recentemente, surgiu outro caso envolvendo a montanha-russa Montezum: um homem ficou tetraplégico após se acidentar, em 2014, e abriu um processo que ainda corre em segredo de Justiça.

Falência

Em meio a um amontoado de notícias negativas e de um prejuízo anual que ultrapassava os R$ 60 milhões, o Hopi Hari pediu recuperação judicial em 2016, numa tentativa de evitar a falência. Dali em diante, a situação financeira da empresa só piorou. Em 5 de abril, uma nova gestão tomou posse, com a promessa de reerguer a situação da empresa. José Luiz Abdalla afirma que nunca escondeu de ninguém que “a tarefa assumida seria difícil e árdua”. “Os erros das antigas gestões são muitos e foi humanamente impossível resolvê-los em 30 dias”, disse.

“Estamos apenas fazendo uma breve pausa para respirar e voltar à luta ainda com mais força” José Luiz Abdalla, presidente do parque
“Estamos apenas fazendo uma breve pausa para respirar e voltar à luta ainda com mais força” José Luiz Abdalla, presidente do parque (Crédito:Divulgação)

A missão é, sem dúvida, quase impossível. A dívida acumulada giraria em torno de R$ 700 milhões. Os 350 funcionários estão com salário atrasado desde fevereiro, sendo que, já em agosto de 2016, haviam feito uma greve, paralisando as atividades para tentar receber. Até o fechamento do parque, a distribuição de energia elétrica era mantida por geradores, uma vez que a CPFL, empresa que presta esse serviço, cortou o fornecimento por causa de uma conta em aberto no valor de R$ 580 mil. O Hopi Hari estava funcionando sem seguro contra acidentes ou danos aos equipamentos. A empresa alegou que não há seguradoras especializadas nessa área e que isso dificultou a contratação de um serviço adequado, mas que estava tentando resolver o problema. Afirmou, ainda, que a ausência do seguro não comprometia a manutenção das atrações. Da lista de 28 brinquedos que estavam aptos a funcionar – o parque já chegou a ter 46 –, apenas 12 seguiam abertos para o público. “Temos um plano e estamos trabalhando porque acreditamos que é possível recuperar o Hopi Hari e devolver a São Paulo um grande parque de diversões como sua população merece”, afirma Abdalla.

Diversão em crise
A situação do Hopi Hari em números

R$ 700 milhões é a atual soma total das dívidas

R$ 99 é o valor da entrada

25 milhões de visitantes passaram pelo parque em 18 anos de existência

350 funcionários trabalham no Hopi Hari e estão sem receber desde o dia 5 de fevereiro

R$ 580 mil é a dívida com a CPFL, empresa de distribuição de energia elétrica