Parece carnaval, mas não é. As ruas da Vila Madalena, bairro boêmio de São Paulo, estão abarrotadas. Jovens e adultos. Não há distinção. Todos ali, em pé na calçada, com o copo de alguma bebida na mão e a máscara, é claro, no bolso. Entre a multidão, um homem uniformizado, o único de máscara, tenta passar entre os fregueses sem esbarrar em ninguém. Em segundos ele chega em uma roda de amigos e entrega uma porção de batata frita. Somente ele me chama a atenção. A sua máscara de tecido que pouco protege para as novas variantes que chegam em nosso País parece não incomodar a farra daqueles que não se importam com os quase quinhentos mil mortos pela doença. O semáforo fica verde e o carro em que estou precisa seguir o fluxo do trânsito. Saio com a sensação da que a cena é o resumo da falta do apreço pela vida.

O Brasil, que deveria seguir em um luto coletivo, deixou de se importar com as mortes. Nem quando o perigo está à sua frente – como é o caso do garçom que tenta driblar o vírus com uma máscara pouco confiável – os brasileiros com desprezo à vida reagem. A cepa do coronavírus, que fez da Índia um gigante coveiro, já está entre nós. E para piorar a situação de um País que nada sente com as viúvas, os viúvos e os órfãos deixados pela pandemia, é possível que uma nova onda nos atinja. As fronteiras não foram fechadas e isso escancara a Nação para todo e qualquer tipo de mutação. O que isso pode, infelizmente, significar? A abertura de covas e mais covas.

Começar a semana com a sensação de que viver ou morrer já não faz mais diferença para um povo, de que é preferível beber uma cerveja em meio uma aglomeração ao invés de pensar nos leitos de UTIs que seguem lotados, é desgastante. Parece que o Brasil perdeu, há muito, o sentido de humanidade. A morte virou nada, parece que são só números. É como se todo um País estivesse olhando para centenas de milhares de pessoas intubadas e simplesmente seguisse o caminho, como um carro que atravessa o cruzamento assim que o semáforo fica verde. Sem olhar para trás.