O empresário Carlos Wizard está entre os novos bilionários brasileiros, condição que adquiriu depois de ter vendido, em 2013, sua participação na rede de Idiomas Wizard, que ele mesmo fundou. Um ano depois, ele criou uma nova holding, a Sforza, que possui um braço financeiro poderoso, a rede de alimentos naturais Mundo Novo e a cadeia de restaurantes Taco Bell. Aos 63 anos, resolveu deixar o negócio para os filhos tocarem e passou a se dedicar ao empreendedorismo social. Em 2018, embrenhou-se em Roraima, onde ficou dois anos acolhendo imigrantes venezuelanos que chegavam ao Brasil fugindo da ditadura de Nicolás Maduro, e, nos últimos meses, decidiu se dedicar, de corpo e alma, à luta contra o coronavírus. Liderando um grupo de dez mil médicos no Brasil e no exterior, Wizard criou um núcleo científico independente que desenvolveu um método de tratamento precoce da Covid-19 que, segundo ele, salva a vida das pessoas que forem atendidas logo no início da doença. “Se a pessoa contaminada é atendida aos primeiros sintomas, ela não evolui da fase um, que é praticamente uma síndrome gripal, para a fase dois ou três, quando precisará ser intubada e usar corticóides, o que pode levar ao óbito”, diz Wizard.

Estamos atingindo, esta semana, a marca de 100 mil mortes por Covid-19. Isso choca o senhor?
É um número que causa indignação não só para nós brasileiros, mas para a comunidade internacional. O que me deixa mais triste é que muitas dessas vidas poderiam ter sido poupadas, se todos tivessem sido diagnosticados prontamente, fossem atendidos precocemente e se tivessem recebido um tratamento logo que apareceram os primeiros sintomas. Caso esse protocolo fosse adotado no Brasil, milhares de vidas teriam sido salvas. E não teriam evoluído da fase um para a fase dois, e da fase dois para a fase três. Eu mesmo, lamentavelmente, perdi um sobrinho nessa condição. Ele não me avisou que estava com Covid. Estava no Rio de Janeiro e foi buscar atendimento num posto de saúde, numa UPA, e lá lhe disseram para voltar para casa e tomar dipirona. Se a doença evoluísse, ele deveria voltar ao hospital. Mas ele ficou em casa e a doença evoluiu. Passada uma semana, voltou e precisou ser internado. Da internação, evoluiu para a UTI, e na UTI precisou ser intubado, com respirador. Uma semana depois me ligaram: Carlos, você pode vir buscar o corpo. Ele deixou esposa e três filhinhos. Numa situação que poderia ter sido totalmente diferente.

O senhor defende a tese de que o isolamento social é nocivo para a economia. Pode explicar melhor como chegou a essa conclusão?
Eu criei um grupo científico, um conselho independente, formado por vários médicos, referências no tratamento da Covid, tanto no Brasil como no exterior, sob a coordenação de oito médicos. Eles analisam o quadro nacional e internacional. Todos os estudos indicam que o lockdown, por si só, não reduz o número de óbitos. Ele acaba com a economia e com a saúde financeira do paciente. O homem, por natureza, é um animal social e o lockdown, longo e contínuo, provoca problemas psíquicos de difícil cura posterior. O Instituto Cochran, da Suíça, analisa os estudos de país a país para verificar os efeitos do lockdown na redução da mortalidade em decorrência da Covid. A conclusão que o instituto chegou é que é muito pouco, ou quase nenhum, o efeito que a paralisia total da economia tem na redução dos óbitos. Só existe uma situação que justifica o lockdown. É quando os hospitais, o serviço médico do município, não têm capacidade de atendimento nas UTIs. Nesse caso sim, justifica se parar tudo, para evitar a contaminação pela doença. Mas, exceto isso, não existe justificativa para o lockdown.

Os países que não fizeram o lockdown no início, como a Itália, tiveram uma explosão no número de casos e de mortes, e depois tiveram que voltar atrás, decretando o lockdown. Como explicar isso?
Sou totalmente favorável ao isolamento social. Temos que agir de forma consciente. Evitar espaços, locais e ambientes com aglomeração de pessoas para evitar a transmissão. Isolamento social faz parte do processo. O que não se justifica é fechar as indústrias, as empresas, os estabelecimentos comerciais, os shopping centers. Temos 5.570 municípios. É uma incoerência, uma insensatez, ter uma regra única, de forma horizontal, para todos os municípios do país. Há municípios brasileiros que não têm nenhuma pessoa contaminada. Então, por que vamos parar a indústria e o comércio dessa cidade? Não faz sentido. Esse foi um erro estratégico que a Justiça cometeu em março, dando aos governadores o poder de decretar a quarentena. Nem sempre o governador tem a sensibilidade de identificar a situação de cidade por cidade. O governador deveria ter deixado a decisão para o próprio prefeito. Temos Estados que são maiores do que muitos países da Europa.

Aqui mesmo no Brasil, Estados que abriram o comércio mais cedo e voltaram ao normal antes agora estão enfrentando um recrudescimento da doença, como foi o caso de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O que aconteceu é que as pessoas estavam sendo orientadas, até há alguns meses, de que se estivessem com o coronavírus deveriam ficar em casa. Pois falava-se que havia o risco dessa pessoa se contaminar caso fosse a um hospital e não estivesse com a doença. Lamentavelmente, essa orientação, que veio do próprio ministro Mandetta, nos fez perder milhares de vidas. Hoje, a recomendação é que as pessoas que estiverem com os primeiros sintomas devem ir ao médico, obter o diagnóstico, fazer exames e ter um atendimento prévio. Com base nisso, a pessoa é tratada e a doença não chega a evoluir. Não passa da fase um. Na fase um, os sintomas são de uma síndrome gripal. E quando ela é tratada logo, nessa fase um, nos primeiros dias, ela não evolui para a fase dois. Nessa fase um se leva três, quatro ou cinco dias. Mas se a pessoa não é atendida na fase um, a doença vai para a fase dois, e uma simples síndrome gripal evolui para uma infecção pulmonar. Já requer um novo tipo de tratamento, com base em corticóides.

Em São Paulo, o governador João Doria manteve tudo fechado por vários meses, e o governo afirma ter poupado mais de 118 mil vidas com a quarentena. O que o senhor acha desse tipo de resultado?
O que eu posso fazer é uma comparação da cidade de São Paulo com outros municípios, onde há cidades que nós não tivemos mortes. Tenho vários exemplos. Em Belém do Pará, houve um colapso no sistema de saúde. As pessoas estavam morrendo em casa, em porta de hospitais, dentro dos carros, com filas de espera para serem atendidas. Até que a dra. Luciana Cruz, que faz parte do conselho científico independente do qual faço parte, passou a adotar esse procedimento de atendimento precoce. Hoje, o que se encontra em Belém são hospitais vazios e UTIs disponíveis. Lá, nem máscaras as pessoas estão usando mais. Perderam o medo da doença porque descobriram que há tem um tratamento para o vírus. Aqui no Estado de São Paulo há o exemplo de Porto Feliz. O prefeito da cidade, o médico Cássio Prado, assumiu o compromisso com a população de que lá não morreria ninguém de Covid. Conclusão: os 55 mil habitantes da cidade não morreram de Covid, porque foi criado um protocolo de atendimento imediato. A pessoa que tinha um sintoma, era imediatamente tratada. Só morreram cinco pessoas na cidade e justamente as que ficaram em casa, se recusando a procurar imediatamente o hospital.

Os economistas dizem que poderemos chegar a uma queda de 9% no PIB, enquanto os infectologistas estimam que chegaremos a 200 mil mortes. Na sua avaliação, o que é mais grave?
Certamente o elevado número de mortes é uma tragédia, tanto que o conselho científico independente do qual faço parte tem por objetivo salvar vidas. Isso está acima de qualquer ideologia, de qualquer viés político, interesse comercial ou empresarial. É por isso que o nosso trabalho é feito de forma voluntária. Atuamos em 26 estados e no Distrito Federal, com mais de 10 mil médicos, que defendem o tratamento precoce da Covid. Mas, lamentavelmente, estamos tendo algumas dificuldades. A dra Estela Emanuel, que trabalha em Houston (EUA), e que está envolvida no tratamento precoce da Covid, atendeu mais de 350 pacientes e não perdeu nenhum contaminado com o novo coronavírus. Ela gravou um vídeo explicando o seu tratamento e divulgou o trabalho nas mídias sociais. Em 24h, obteve 17 milhões de visualizações. O vídeo foi censurado, tirado do ar, como se ela estivesse passando informações falsas à população. A cantora Madonna ficou sensibilizada e replicou o vídeo nas suas redes. Em 24h, o vídeo da Madonna foi retirado do ar novamente, sob o mesmo argumento, de que propagava notícias falsas. Na semana passada, fizemos uma live com oito médicos do Paraná para conscientizar a população de que a Covid-19 tem cura, desde que seja tratada precocemente. Sabe o que aconteceu? O Facebook tirou nossa live do ar. O movimento contra o nosso tratamento é internacional e orquestrado, com uma doutrina muito bem aparelhada no combate ao tratamento precoce. Eu faço um desafio: quantas pessoas morreram quando foram submetidas ao tratamento precoce? Nenhuma.

Em meio à pandemia, o governo encaminhou a reforma tributária ao Congresso, mas ela prevê medidas que podem levar ao aumento da carga tributária. Como empresário, o senhor concorda com isso?
O que eu tenho acompanhado é que o governo vai diminuir alguns impostos e lançar outros impostos, de forma tal que haverá uma reformulação tributária. Mas é claro que, como todo brasileiro, eu sou contrário ao aumento de impostos. E peço que a equipe econômica reflita sobre isso, especialmente neste momento de pandemia, para que não haja aumento de impostos, seja para a pessoa física ou para a pessoa jurídica. Sou 100% contra a nova CPMF.

Como o senhor vê o trabalho do general Pazuello no combate ao novo coronavírus e os militares na Saúde?
O presidente disse que Pazuello ficará no cargo até o fim da pandemia. Então, eu acredito que até o final do ano não haverá nenhuma mudança no Ministério. Quero dizer que ele é a pessoa certa, no momento certo, para a função certa. Não é político e não está lá para favorecer partido A, B ou C. Em segundo lugar, ele já tem uma carreira militar definida. É responsável pela 12ª Região Militar do Amazonas. Está lá para cumprir uma missão, e quando cumprir a missão retornará a seu posto. Não vai usar a função como trampolim para obter outro cargo no governo. Seu trabalho com refugiados venezuelanos foi elogiado até na ONU. Mas essa história de que o Ministério da Saúde está sendo militarizado é balela. O ministério tem cinco mil funcionários, entre eles quinze são militares.