O termômetro da nova Câmara de SP: polarização tende a ofuscar debates locais

Sessão de posse deu uma prévia do que serão as relações e os debates entre os vereadores pelos próximos quatro anos

Richard Lourenço/Câmara de Vereadores de São Paulo
Plenário da Câmara de Vereadores de São Paulo durante sessão de eleição para a Mesa Diretora Foto: Richard Lourenço/Câmara de Vereadores de São Paulo

A Câmara de Vereadores de São Paulo era uma das poucas em que pautas ideológicas ficavam em segundo plano e os debates tinham seus momentos acalorados, mas poucos. Cenário esse que mudou em 2025 e a temperatura no plenário da Casa promete subir – e muito.

A chegada de parlamentares em extremos opostos deve acirrar a disputa municipal, nacionalizando as discussões em um plenário destinado a atender os 13 milhões de habitantes da cidade. Os protagonistas dessa polarização já estão definidos: Zoe Martinez (PL), Lucas Pavanato (PL), Sargento Nantes (Progressistas), Adrilles Jorge (União Brasil), Amanda Vettorazzo (União Brasil), Luana Alves (PSOL), Amanda Paschoal (PSOL) e Luna Zarattini (PT) devem ser os principais responsáveis por estremecer as bases da Câmara.

Uma prévia das discussões pôde ser vista na sessão solene de posse dos vereadores e do prefeito reeleito, Ricardo Nunes (MDB). Nem o dia mais cerimonial da legislatura foi imune à polarização ideológica.

Durante a tradicional promessa de posse, a vereadora Zoe Martinez (PL), bolsonarista raiz, exaltou o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), provocando vaias da oposição. Petistas e psolistas reagiram prontamente, exibindo cartazes e entoando gritos de “sem anistia”, em referência às acusações que pesam contra Bolsonaro.

A sessão se tornou ainda mais acalorada quando Zoe e o vereador Adrilles Jorge (União Brasil), junto a parlamentares do PT e do PSOL, bateram boca por quase dois minutos, atrasando os trabalhos. A polarização nacional agora ocupa espaço na Câmara de São Paulo, o que poderá ofuscar os debates locais.

E isso foi apenas o começo. Durante a sessão de eleição para a presidência da Câmara, vereadores da base governista passaram a gritar e apontar o relógio para interromper a fala do vereador Celso Giannazi (PSOL), que concorria ao cargo de presidente.

Enquanto isso, vereadores de direita já planejavam uma bateria de projetos ideológicos, além de duas CPIs. Uma delas é a polêmica CPI das ONGs, proposta pelo novato Lucas Pavanato (PL), vereador mais votado em São Paulo.

Ele afirmou que a nova comissão não terá como alvo o padre Júlio Lancelotti, mas seu foco será investigar organizações que atendem dependentes químicos na Cracolândia, despertando a ira da esquerda.

Outra frente de Pavanato, em parceria com a vereadora Amanda Vettorazzo (União Brasil), busca instaurar uma comissão para investigar invasões de prédios públicos e moradias irregulares. O tema promete ser um “prato cheio” para ataques à esquerda.

Do outro lado, a oposição pretende mirar o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Há movimentações para instaurar uma comissão que investigue a chamada máfia das creches. No entanto, os opositores admitem que não possuem votos suficientes para viabilizar a instalação da CPI.

Com todas essas movimentações já no primeiro dia da legislatura, o termômetro da Câmara de São Paulo parece prestes a explodir. Debates acalorados, brigas e barracos são esperados, além de um balde de polêmicas pelos próximos quatro anos.