O governo Bolsonaro nunca deixou de atacar outros Poderes. Se não publicamente, continuou fazendo isso de maneira sistemática no subterrâneo da política, ambiente onde o capitão e seus principais aliados aprenderam a operar.

A tal trégua que o Planalto sinalizou fazer ao Supremo depois das ameaças à democracia feitas no Sete de Setembro não passa de um mero teatro. Nesta semana, o vazamento de um áudio de dentro da Esplanada dos Ministérios comprovou a teoria de que esse tipo de conduta talvez nunca tenha deixado de fazer parte da rotina do séquito de Bolsonaro.

Em um evento fechado da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nesta semana, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, um dos principais conselheiro do capitão, voltou a golpear o Judiciário. Disse, dentre outras asneiras, que precisa tomar remédios psiquiátricos “na veia” diariamente para não levar o mandatário a tomar medidas mais “drásticas” contra a Corte.

Acostumados a trabalhar nas sombras, bolsonaristas sugerem que nunca deixaram de lado o plano de fragilizar o STF. Mesmo porque se trata de uma verdadeira constante do Planalto: metralhar tudo aquilo o que está fora do seu raio de poder. O que não significa que o capitão não tenha esse interesse, haja vista o seu esforço hercúleo de emplacar no Supremo o nome “terrivelmente evangélico” que tanto prometeu.

Enquanto não tiver as rédeas do Judiciário – e isso ele jamais terá, devido à higidez da maioria de seus integrantes -, o que restará ao presidente será o mais do mesmo: atacar os ministros do STF para inflamar a pequena fatia de eleitorado que ainda lhe dá sustentação. De qualquer forma, cabe aos órgãos de controle não fazerem ouvidos moucos para cumprir o que a Constituição determina.