A polêmica é inevitável na mesma dose em que se faz desnecessária. Ao disponibilizar no SUS vinte e nove terapias alternativas, o Ministério da Saúde acertou ou errou? Quer se defenda uma posição ou outra, o fato é que cada uma delas tem a sua ponta de razão.

O CFM julga que o ministério comete um equívoco, sobretudo porque as terapias alternativas não se adequam à eficácia e à segurança, fatores imprescindíveis ao exercício da medicina. Isso ocorre porque tais métodos (à exceção da acupuntura e homeopatia) não trazem consigo comprovação científica. Em decorrência da auto sugestão, um paciente até pode apresentar sinais de melhora em seu quadro de enfermidade, mas essa situação é efêmera e está longe de se traduzir em tratamento. O CFM considera um absurdo as autoridades terem colocado sob a guarda do SUS as práticas que geram apenas efeito placebo, e isso no momento em que o nosso sistema público de saúde está falido e sem verba para os procedimentos mais elementares.

Aqueles que defendem a iniciativa do governo federal afirmam que a medida do ministério está de acordo com todos os protocolos da OMS: o conforto emocional do paciente tem sempre de ser levado em conta, ou seja, ele tem o direito de seguir o tratamento no qual acredita — até porque o efeito placebo, em alguns casos, ajuda na recuperação. Assim, cabe ao profissional da saúde explicar claramente em que consiste o tratamento comprovado pela ciência e também o caminho da terapia alternativa, até porque as duas possibilidades não são conflitantes nem excludentes. Se as crenças do enfermo o beneficiam no tratamento científico, tanto melhor.

Há em todo o mundo diversas publicações sobre abordagens não convencionais, como, por exemplo, o “European Journal of Integrative Medicine” e o “American Journal of Chinese Medicine”. No Brasil, o próprio Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) financia estudos e pesquisas nesse campo. Em relação à falência do SUS, que é pública e notória em todo o País, a argumentação dos que se opõem ao CFM segue a seguinte linha de raciocínio: não será a introdução de terapias integrativas que quebrará ainda mais o sistema.

A mazela que o faliu por inteiro tem outro nome: é a corrupção generalizada em todos os setores da vida pública. Concluindo: se alguém crê nesses métodos não convencionais e quer se tratar por meio deles, tem todo o direito, democraticamente, de encontrá-los no SUS. A questão é republicana.

Como se disse, há razão nas duas pontas. O importante, repita-se, é o médico que assistir o paciente expor, com clareza, as consequências, resultados e efeitos (desejados e colaterais) dos tratamentos heterodoxos e dos tratamentos já comprovados em amplas pesquisas pela ciência.