ROUBO A serpente de bronze foi levada sem ser vista durante o dia: falta de policiamento (Crédito: Veetmano Prem)

A relação do Brasil com a arte, em alguns aspectos, como a valorização dos artistas e a preservação do acervo cultural, sempre foi vergonhosa. O roubo da taça Jules Rimet, conquista da seleção brasileira tricampeã na Copa do Mundo de 1970 é um caso que reforça a crença de descaso com o patrimônio artístico. Há poucos dias, autoridades do Recife (PE) reportaram um roubo de proporções catastróficas para a história da cidade. Diversas obras do artista Francisco Brennand foram furtadas do Parque das Esculturas, considerado um dos cartões postais da metrópole nordestina. O item que mais chama atenção pelo sumiço é uma serpente de bronze, com cerca de 1,5 metro de altura, 20 metros de comprimento e mais de duas toneladas. Além dela outras peças foram levadas, totalizando 13 toneladas de bronze, avaliadas em mais de R$ 200 mil.

ÍCONE Francisco Brennand doou mais de 50 obras para a criação do parque: legado imortal

Brennand faleceu em 2019, mas sua obra permanece no imaginário nacional. Ele é lembrado como um dos grandes artistas plásticos brasileiros e foi peça chave na criação do Parque das Esculturas, inaugurado em 2000, a pedido da Prefeitura de Recife para celebrar os 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil. Apesar de ser um ponto turístico, a área é alvo de críticas por causa da falta de fiscalização. “Desde sua inauguração, o espaço sofre recorrentemente com ações de vandalismo e depredações pela falta de zelo e manutenção do poder público”, disse o Instituto Oficina Cerâmica Francisco Brennand, instituição fundada pelo artista, em nota oficial. Segundo reportagem do portal G1, diversos frequentadores do parque viram pessoas levando as peças em plena luz do dia. O grupo estava munido de ferramentas e até de um caminhão. Quem estava por ali achou que os criminosos fossem profissionais da manutenção. Até o momento as autoridades pernambucanas não conseguiram identificar os ladrões.

CARTÃO POSTAL A prefeitura de Recife prometeu aumentar a fiscalização: símbolo da cidade (Crédito:Leandro de Santana)

Para o historiador do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL) Diego Amaro, o problema é a falta de educação no Brasi, que se reflete no exercício da cidadania. Sem um conhecido sólido, as pessoas não reconhecem a arte e não a protegem. “Quem recebe uma educação repleta de conhecimento da própria cultura tem mais facilidade em identificar o que faz parte de seu legado histórico”, afirma. De acordo com especialistas, bronze e metal são materiais caros, o que ajuda a entender o interesse dos criminosos. Outras capitais brasileiras também sofrem com a degradação do patrimônio público e a situação revolta quem vive da arte e não enxerga mudança. “O que aconteceu no Parque das Esculturas é um descaso sem igual”, afirma Marcos Lima, coordenador do Museu da Obra Salesiana no Brasil. “Os europeus, por exemplo, aprendem desde pequenos o significado de preservar seus bens, seja em espaços públicos ou privados. Estamos engatinhando neste quesito”, ressalta. Depois da repercussão do caso e as cobranças tanto de familiares de Francisco Brennand quanto de frequentadores, a polícia irá reforçar a fiscalização no Parque das Esculturas para evitar novos incidentes e garantir a segurança dos visitantes. É o que se espera.