Dez anos após o estouro da crise financeira global, a União Europeia apresenta sinais otimistas de que a recessão, ao menos no continente, ficou no passado. A economia do bloco cresceu pelo quinto ano seguido, o desemprego atingiu o nível mais baixo desde 2009 e os bancos, que chegaram a ficar ameaçados por falta de liquidez, agora estão mais fortes. Dos oitos países que tiveram que recorrer ao socorro financeiro desde o início da crise, somente a Grécia ainda apresenta dificuldades. Além disso, apenas três países dos 28 membros da UE têm déficit público acima de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), que é o limite fixado pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento — o conjunto de regras e instrumentos criados para combater o endividamento público. Dados divulgados pela Eurostat (gabinete de Estatísticas da União Europeia) mostram que as medidas de austeridade que geraram ondas de protestos em vários estados-membros têm dado bons resultados.

“Os países que aplicaram programas de ajustamento, às vezes bastante rigorosos, é verdade, com custos econômicos e sociais elevados, são alguns que estão a crescer mais, como Espanha e Portugal”, diz José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia entre 2004 e 2014. Ele esteve no Brasil para uma reunião do Goldman Sachs, banco no qual ocupa o cargo de presidente do conselho. Os programas de ajustamento a que ele se refere incluem elevação de impostos e redução de aposentadoria. Foi o caso de Portugal, que registrou um crescimento de 2,8%.

“Os países que aplicaram programas de ajuste, às vezes bastante rigorosos e com custos econômicos e sociais elevados, são alguns que estão a crescer mais” José Manuel Durão Barroso, ex-presidente da Comissão Europeia

A principal surpresa veio da Espanha, que no segundo trimestre deste ano impulsionou o bloco com uma alta de 3,1% no PIB. A notícia é ainda melhor quando se leva em conta que, em 2009, a queda havia sido de 3,7% — o que obrigou o governo espanhol a pedir um socorro de € 100 bilhões. Para honrar a dívida, o país foi um dos primeiros a tomar atitudes drásticas para enxugar as contas. Em 2012 aprovou uma reforma trabalhista que, entre outras medidas, facilitou a demissão de funcionários e criou mais vagas (a maior parte temporárias) de trabalho. A Espanha também redirecionou a economia para as exportações. Com isso, o governo espanhol foi responsável por criar quase metade de todo o emprego gerado pelos 19 países pertencentes à zona do euro. O resultado derrubou a taxa de desemprego em seis pontos percentuais desde 2013. Atualmente ela está em 17,1%, ainda é alta, mas um avanço para o país que registrou índices de desemprego acima de 20% por cinco anos seguidos. Até a Itália, atolada em uma dívida histórica, teve crescimento de 1,5%, o melhor para o país desde 2011. A França, que vive um momento de instabilidade por conta de reformas, também apresentou crescimento de 1,8%.

OTIMISMO Banco Central Europeu, na Alemanha: projeção de alta no PIB até 2019

MAIS DESAFIOS

A avaliação positiva, porém, não impede que a Comissão Europeia reconheça que há muito a ser feito para que o fantasma da crise deixe de assombrar o bloco. A Grécia é o país que mais exige atenção, uma vez que sua dívida equivale a 180% do PIB anual. Nos últimos sete anos o governo grego precisou recorrer à ajuda externa. A Finlândia também acendeu o sinal de alerta dentro do grupo. Foi o único país que teve contração na economia, uma queda de 0,5%, a primeira desde 2012. A razão é atribuída à queda na cotação internacional do papel, um dos principais produtos de exportação do país, e à desvalorização das ações da empresa de tecnologia Nokia, o que demonstra que a situação pode ficar pior caso não haja intervenções.
Ainda há outro fator que deve balançar a recente estabilidade europeia: o Brexit, saída da Grã Bretanha do bloco, que pode ocorrer em março de 2019. “Claro que há uma perda com o Brexit. A Grã-Bretanha tem muita importância econômica e política”, afirma Istvan Kasznar, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Mesmo com tantos desafios, tudo indica que a economia da Europa, enfim, entrou nos trilhos.

A Espanha redirecionou a economia para as exportações — e a taxa de desemprego caiu seis pontos percentuais desde 2013

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Recuperação da economia na Europa

9,1% é a taxa de desemprego dos 28 países da UE, a mais baixa desde 2009

O PIB conjunto da região cresceu 2,2 no segundo trimestre de 2017 na comparação com mesmo período do ano passado 0,9% é a elevação do PIB da Espanha no segundo trimestre deste ano

Em relação ao trimestre anterior, a alta do PIB na EU como um todo foi de 0,6%

 


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