Após o premiado A Forma da Água, em 2018, o cineasta Guillermo del Toro tem a oportunidade de levar outra fábula às telas: dessa vez é uma adaptação do livro O Beco do Pesadelo, de William Lindsay Gresham. A nova versão traz Bradley Cooper, Cate Blanchett e Willem Dafoe na história do ambicioso Stanton Carlisle, ajudante de circo que faz qualquer coisa para subir na vida. Com boas atuações e uma trama magnética, a produção é forte candidata ao Oscar 2022. O astro Willem Dafoe falou sobre o filme à ISTOÉ.

O que te atraiu a participar desse projeto?
Guillermo Del Toro. Sempre fui um admirador do seu trabalho. Quando lancei o filme “No Portal da Eternidade”, ele foi mais articulado e poético que eu ou Julian Schnabel, o diretor. Fiquei feliz quando ele me convidou para atuar em “O Beco do Pesadelo” porque estava familiarizado com a produção original e sabia que ele faria um ótimo trabalho.

ATOR Willem Dafoe: “O cinema ainda é um mistério para mim” (Crédito:Divulgação)

Qual você acha que é o tema principal deste filme?
Há muitas camadas. É o retrato da ascensão e queda de um homem que, desde o início, tenta quebrar o ciclo que o destino lhe impõe. Dá até para prever o que vai acontecer com ele. Expressa um fatalismo, um julgamento sobre a natureza humana. Tem uma dinâmica de presa e predador, um tipo de ambição, capitalismo. Odeio apontar um tema porque muitas pessoas terão visões diferentes sobre isso.

Você é conhecido por seus grandes papéis como ator de teatro. É importante para um ator de cinema ter essa experiência?

Só posso falar de mim. Não sei, há bons atores de cinema que nunca fizeram teatro. No meu caso ajudou na formação, na abordagem criativa sobre a atuação. Atuo com minha companhia de teatro há 30 anos. Não é apenas um bom treinamento, é uma visão sobre como abordar uma história. Trabalho a partir de uma ação, um impulso físico. Mas qualquer um pode atuar em filmes e ter sucesso. Há o mistério da câmera, da luz. Alguns são fotogênicos, outros não, uns têm uma energia incrível, mas desaparecem na tela. Ainda é um mistério para mim.

O filme é baseado em um livro dos anos 1940, adaptado para o cinema pela primeira vez em 1947. Por que vale a pena assistir a essa história hoje?

São versões diferentes. É uma advertência contra a ambição cega para quem usa outras pessoas para alcançar sucesso ou felicidade. É atual porque sempre temos que viver em sociedade. Quando entram em uma sala, as pessoas começam a comparar seus feitos e a competir, então às vezes acontecem coisas negativas.

Você tem uma forte relação com o Brasil, já produziu filmes aqui. Quais são lembranças mais fortes do País?
Tenho muitos amigos. Minha esposa é uma grande fã de música brasileira. Eu apenas gosto de estar no Brasil. Gosto da música, da comida. Não sou um grande conhecedor das diferentes religiões, dos pontos de vista, mas acho um lugar fascinante. Gosto das pessoas, já estive no País trabalhando e como turista. É sobre amizade e cultura. Não estou dizendo que gosto do Brasil apenas porque essa é uma entrevista para um veículo de imprensa brasileiro. A maior prova é que continuo voltando ao Brasil e espero voltar em breve.