Os pessimistas já tiram Bernie Sanders da corrida presidencial, mas seus partidários não abandonam o sonho: ainda creem que ele pode levar sua promessa de uma sociedade mais justa para a Casa Branca.
Sanders dá as últimas cartas no reduto progressista da Califórnia, que realiza suas primárias na próxima semana, para provar – contra todos os prognósticos – que pode derrotar Hillary Clinton e se tornar o líder democrata que enfrentará Donald Trump, virtual candidato republicano.
Giovan Lunar, um estudante de Biologia de 21 anos, saiu vibrante na tarde desta quinta-feira de um encontro em Modesto, uma pequena cidade no centro do estado mais povoado do país.
“Ele nos dá esperanças. Realmente se preocupa com nosso futuro”, disse o jovem, indiferente diante da clara vantagem de Clinton na campanha.
Cerca de 3.000 pessoas enfrentavam um forte calor no comício para escutar o senador de Vermont expôr seu plano para um sistema de saúde gratuito, de maior taxação nas grandes fortunas e legalização da maconha, uma semana antes da última “Super Terça-Feira”, quando votam seis estados, incluindo a Califórnia.
“Sim, vamos todos votar. Ganharemos!”, prometia Sanders à multidão, que cantava em coro “Bernie, Bernie!” e “Feel the Bern!” (um jogo de palavras com a abreviação de seu nome, que soa como (Sintam o) calor (burn).
A música de Prince e David Bowie amenizava a reunião e ocasionalmente o cheiro de maconha era sentido no ar, enquanto a atriz Susan Sarandon – amiga de longa data de Sanders – entusiasmava a multidão com diversas etnias e gerações.
Em Modesto, muito partidários de Sanders são jovens que votarão pela primeira vez em novembro, quando ocorrerá a eleição presidencial.
“É uma inspiração. Olhe esta multidão, ele tem uma grande mensagem para a juventude sobre o desemprego, a dívida dos estudantes”, disse Misael Villeda, estudante de Psicologia de 24 anos. “Fortaleceu o Partido Democrata”.
Mas Clinton também está fazendo uma forte campanha na Califórnia para conquistar a vitória e acabar com Sanders, seu último obstáculo para permanecer na campanha. E a probabilidade está a seu favor.
BerniemaniaO processo de nomeação presidencial nos Estados Unidos está baseado em ganhar delegados, e Clinton já obteve 2.313, segundo a contagem da emissora CNN, faltando apenas 70 para assegurar a nomeação. Sanders está consideravelmente mais longe, com 1.546.
Centenas de delegados estarão em jogo na terça-feira, e Clinton tem assegurado mais que o necessário.
No entanto, os companheiros de Sanders não o abandonam – começando por Sarandon, que declarou à AFP que está convencida de que Clinton será processada pelo uso de um endereço de e-mail privado quando era secretária de Estado.
“Muitos super-delegados estão mudando de posição”, disse a estrela.
Sanders argumenta há algum tempo que a vantagem de Clinton se baseia no apoio dos chamados super-delegados, altos membros do partido que podem votar em quem quiserem na convenção nacional, no próximo mês de julho.
Sem a importante vantagem dos super-delegados, a diferença a favor de Clinton é muito menor.
“Dois demônios”Mesmo com a confiança que tenham em suas possibilidades, muitos partidários de Sanders já se desesperam sobre o que irão fazer diante de um triunfo de Clinton.
Alguns, como Villeda, estão decididos a fazer o que for para evitar que Trump chegue à Presidência.
“Hillary necessita de nós para ganhar”, disse, consolando-se com a esperança de que o forte desafio que se apresentou a Sanders lhe dará capacidade para influenciar a política do Partido.
Outros encontram dificuldade em lidar com a ideia de apoiar uma candidata que enfrentam com unhas e dentes.
Artiste Booker, uma dona de casa afro-americana de 31 anos, a considera uma republicana disfarçada, uma linha de ataque frequente para Sanders.
“Não é honesta, não é confiável. Olhe seus e-mails”, disse.
Booker admite que será difícil escolher entre Trump e Clinton: “Seria como escolher entre dois demônios”.
Trump reiterou que confia que pode ganhar o apoio entre os partidários de Sanders, que se autodenomina democrata socialista, e compartilha de uma plataforma comercial protecionista e uma mensagem anti-establishment que tem sido muito atrativa.
Algumas das vozes mais radicais do eleitorado de Sanders tem sugerido que uma presidência de Trump seria preferível à eleição de Clinton.
Mas, este argumento não convence Leroy Smith, um jovem de 26 anos que ostenta um visual afro. “É como chamar a votar em Hitler para derrotar o sistema”, afirmou. “Trump é um mal empresário e é a última coisa que este país precisa”.
Para Marie Frazier, construtora de 59 anos, tomar uma decisão é doloroso.
“Amo Bernie Sanders. Não quero abandonar a ideia de votar pelo Bernie Sanders”, confessa, “mas não quero que Donald Trump ganhe”.
ved/ec/sst/ja/cb/mvv