Após os excessos do fim de ano, daqui a pouco vai começar mais um carnaval, mais um BBB, mais uma eleição… e, para a maioria, os dissabores de 2021 vão ficar para trás, cair na vala comum do esquecimento para dar lugar a novas agruras
E você, caro leitor? Como anda sua memória neste início de 2022? Ainda se recorda dos mais de 600 mil mortos pela Covid? Ou já esqueceu da crise de oxigênio de Manaus? Do kit Covid? Da corrupção na compra das vacinas? Da recusa de imunizar adolescentes e crianças?

Se a sua memória é fraca, a minha, por força do ofício, me lembra e obriga a lembrá-lo de todas essas mazelas.

Eis meu mister jornalístico: a busca da verdade, ainda que muitos prefiram as fake news da tia do Zap.

Meu ofício me obriga a dizer que apesar das esperanças renovadas, nem tudo está bem. Que a Covid não foi embora junto com o ano velho. E que, após nove longos meses de trabalho, 1.180 páginas de relatoria e 78 pedidos de indiciamento, a CPI da Covid ainda não surtiu nenhum efeito legal, com alguns poucos pedidos de investigação, mas zero acusações formais.

Desde outubro, cópias do relatório final foram encaminhadas à Procuradoria Geral da República, a quem cabe oferecer denúncia contra pessoas com foro privilegiado, como ministros de Estado e o presidente da República. Aliás, Jair Bolsonaro
é nada menos que o primeiro da lista, acusado de crimes como prevaricação, charlatanismo, epidemia com resultado morte, infração a medidas sanitárias, incitação ao crime, falsificação de documentos e extermínio.

Junto com o “chefe”, foram denunciados os ministros Marcelo Queiroga, Onyx Lorenzoni, Braga Netto e Wagner Rosário, que, graças à fidelidade canina apresentada, seguem inabaláveis em seus cargos. Se criminosos fossem, dir-se-ia que estariam em continuidade delitiva.

As acusações contra a cúpula do Governo são graves demais para passarem despercebidas ou mesmo serem esquecidas pelo PGR

As acusações contra a cúpula do Governo são graves demais para passarem despercebidas ou mesmo serem esquecidas pelo PGR.

Lembremos que a justiça é uma corrida de bastão: o que investiga entrega para quem denuncia, que entrega para quem julga, que, em última instância, pratica a correção e presta contas à sociedade.

Se um dos elos prevarica, a justiça não se realiza e a impunidade prevalece.

E se o PGR continuar cego aos fatos, sem oferecer denúncia aos envolvidos, de nada adiantará outra CPI, como pretende o senador Randolfe Rodrigues. O grito é inócuo quando o interlocutor é surdo.Mas, eu continuarei a falar por mim e pelos mais de 600 mil, cujas vozes foram caladas pela Covid.

Neste momento, o que mais me preocupa nem é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons.