Durante os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro, uma parcela enorme da população foi alimentada com teorias conspiratórias.

Com base em mentiras, a meta era convencer que estávamos a beira de uma revolução comunista ou coisa que o valha.

Mentiras sempre calculadas de forma a não permitir que seus autores, o presidente, seus familiares, alguns empresários e seus aliados políticos fossem confrontados pelas forças democráticas do País.

Mensagens que criaram uma espécie de célula adormecida de brasileiros prontos a atender ao chamado do seu líder, quando fosse necessário.

Gente que, como o presidente, sua família, seus ministros, acreditavam num País com menos liberdades para minorias, menos diversidade de ideias e comportamentos.

Ao longo de quatro anos, este governo atuou de forma a construir e alimentar um exército de militantes em estado de suspensão, pronto para entrar em ação quando fosse dado o sinal.

O dia chegou. Ao menos foi o que pensou esse exército paramilitar.

No domingo quando Lula venceu as eleições o sinal teria sido dado e, ao contrário do que imaginavam, não veio através de palavras de ordem.

O sinal veio do silêncio.

Por três dias Bolsonaro não se manifestou, não desafiou o resultado, não postou news ou fake news em seus perfis nas redes sociais.

Seus asseclas entenderam que aquele era o momento de tomar as ruas em apoio ao seu Capitão.

A célula dormente, despertou.

Os caminhoneiros e a Polícia Rodoviária Federal foram a ponta de lança desse movimento.

Dado o contínuo silêncio presidencial, criaram o factoide de que, se ocorresse insegurança constitucional sem precedentes e sem que o mandatário tivesse qualquer envolvimento, as eleições seriam canceladas.

Pobres idiotas.

Uma parcela da população por quatro anos alienadas por mentiras, passou a acreditar nas próprias mentiras
que criaram.

Dentro das paredes do Palácio do Planalto, o movimento era outro.

Bolsonaro estava, sim, pensando em seu próprio destino.

Pela primeira vez em 30 anos, perdera uma eleição e, por consequência, dia 1 de janeiro estaria a ver navios, sem foro privilegiado.

Enquanto milhões de brasileiros reacionários tomavam as ruas, o presidente fazia aquilo que sempre fez: arquitetava por seu próprio destino.

O bolsonarismo nunca foi um movimento político. É, apenas, mais uma fake news que convenceu milhões de brasileiros ingênuos

Na segunda e terça-feira pós eleição, Bolsonaro teve a constatação de seu isolamento.

Rei morto, rei posto.

Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados e dono da chave do orçamento secreto, correu para sinalizar ao presidente eleito que estava pronto para negociar.

O Centrão idem.

Não existe mais Bolsonaro, a não ser para os infelizes que continuavam bloqueando estradas e fazendo continências ao vazio, certos de serem os verdadeiros patriotas.

Então veio o discurso da derrota.

Um discurso tacanho que, se não reconheceu a vitória de Lula, reconheceu a própria derrota.

Bolsonaro não é mais líder de ninguém. Naquele momento, muito mais importante era correr para o STF para iniciar a costura de uma rede de proteção que o abrace na queda.

No dia seguinte, pede que se desfaçam os bloqueios.

Uma bolsonarista chora nas redes sociais, ao não entender, pela primeira vez, a mensagem do presidente:

— O que ele espera de nós, afinal? – ela pergunta.

De vocês? Não espera nada. Nunca esperou.

O movimento Bolsonarista estava derrotado, não porque não foi capaz de atrair milhões de brasileiros.

Mas porque, na verdade, nunca existiu.

Os “bolsominions” foram apenas massa de manobra de um líder sem ideologia, cuja única preocupação continua sendo a mesma de sempre: seu próprio futuro.