Lula não criou Bolsonaro em 2018.

Quem o criou foi um tipo de brasileiro obscuro, classe média, covarde demais para admitir estar ameaçado em seus privilégios durante os governos PT.

Aquele brasileiro que achava, como Paulo Guedes, que o aeroporto parecia uma rodoviária, que pessoas LGBTQIA+, negros e mulheres estavam falando demais.

Lula não criou Bolsonaro, mas permitiu que esse brasileiro tacanho e reacionário, com um candidato como Bolsonaro e protegido pelo anonimato das urnas, finalmente pudesse expor sua opinião.

Lula não criou Bolsonaro em 2018, mas permitiu que o bolsonarismo germinasse e desse frutos.

A eleição que acontece daqui duas semanas, começou em 2005.

Mais exatamente, no dia 5 de dezembro de 2005.

Ali, numa entrevista a diversos órgãos de imprensa, Lula defendeu José Dirceu de sua evidente participação no recém descoberto Mensalão.

Naquele momento, bastava uma frase para que Lula tivesse mudado o Brasil para sempre:

— Sem comprar parlamentares, não se governa o Brasil.

Admitindo a corrupção, como um mal obrigatório para governar, Lula poderia liderar um movimento para sanear o Congresso.
Mas preferiu insistir em não admitir o óbvio.

Naquele momento, para boa parte de seus eleitores, Lula passou a ser mais um picareta, sem anel de doutor.

Foi ali, também, que Lula criou também o Petrolão, validou o Centrão e, por tabela, blindou o baixo clero de onde emergiu Bolsonaro.

Tudo para prosseguir uma ensandecida estratégia de perpetuar seu meritoso plano de governo, continuando a usar dinheiro da corrupção para alimentar a própria corrupção.

Traído, parte de seu eleitorado – para o qual os fins não justificam os meios – assistiu calado à Lava-Jato.

Lula não foi preso pelo triplex, mas porque provou fazer parte do problema e não da solução.

Esperto, sabendo que não poderia permitir que seus anos de cárcere fizessem surgir novas lideranças na esquerda, Lula inicialmente colocou em seu lugar a sargento Dilma, de carisma zero e que não existia politicamente.

O PT simplesmente não entende que as campanhas eleitorais acontecem no celular e não na tevê

Cuidou de não apoiar Ciro, a antítese de Dilma: não obedecia e tinha o carisma necessário para recuperar a imagem da esquerda.

Finalmente, na eleição de 2018, esperou até o limite do prazo para permitir que Haddad se candidatasse, sem chance alguma de se eleger, pois não teria tempo suficiente para combater o populismo autoritário (contradição típica dos caudilhos latinos) de Bolsonaro.

Lula voltou.

E por algum tempo, até mesmo seus viúvos e viúvas, essenciais para uma vitória no primeiro turno, tinham a esperança que ele confrontaria Bolsonaro.

Mas Lula, que até alguns meses parecia uma vitória provável, agora se transformou numa vitória possível, porque decidiu por uma campanha silenciosa, que ignora as transgressões diárias de Bolsonaro e família.

Não intimida e não reage, permitindo que Bolsonaro utilize sua infinita capacidade de gerar notícias.

Lula e o PT simplesmente não entenderam que campanhas, hoje, acontecem no celular e não na TV.

Não são mais programas. São recortes editados e compartilhados por qualquer um.

O crime eleitoral de Bolsonaro no Sete de Setembro é o melhor exemplo.

Um espetáculo de populismo, feito para viralizar nos grupos de família.

O resultado está nas pesquisas, com a diferença entre os dois candidatos diminuindo a cada medição.

Lula deve ganhar.

Lula vai ganhar.

Mas assume um risco desnecessário e, mais que isso, ao se calar diante de Bolsonaro ecoa o mesmo silêncio que manteve diante da corrupção de seu governo.