O Sete de Setembro sempre foi marcado por exaustivos desfiles militares, com tanques barulhentos, oficiais com espadas e bionetas e o pelotão marchando, ao som de estridentes cornetas. Nos tempos obtusos do regime militar, o capitão seguia em frente e dava os comandos para os soldados apresentarem suas evoluções na avenida. Direita, volver! era um deles. Aliás, todo Sete de Setembro era igual. Os soldados marchando, os comandantes com suas fardas engalanadas no palanque e os ditadores aplaudindo, com rostos suados sob as secas temperaturas de Brasília. As imagens eram transmitidas ufanisticamente pelas emissoras de TV, quase todas governistas ou sob a ação da censura do regime militar.

Enquanto os soldados desfilavam, centenas de brasileiros visitavam seus filhos presos nas cadeias por discordarem do regime de exceção, enquanto outros visitavam os túmulos dos que foram assassinados indefesos por defenderem apenas ideias divergentes. Neste Sete de Setembro, no entanto, os desfiles dos militares repressores serão substituídos por tropas imbecilizadas sob comando de Jair Bolsonaro, que tomarão a Praça dos Três Poderes para promover ataques à democracia e tentar resgatar o tempo nebuloso dos anos de chumbo da ditadura. A esperança dos que lutaram pela redemocratização após 25 anos de trevas é que essa tentativa golpista do bolsonarismo desta vez fracasse e seu insucesso seja transmitido ao vivo pelas emissoras independentes. A imprensa livre é o maior legado da democracia que conquistamos em 1985.

Os bolsonaristas que desejam o retrocesso institucional precisam ser varridos do cenário político nacional. Por sorte, os próprios comandantes militares hoje não compactuam com o ex-capitão, que até do Exército foi expulso por indisciplina. Os militares, desta vez, não irão aderir ao projeto insano do presidente desmiolado. Não há mais espaço no Brasil para golpes ou ações militares descasadas com os anseios nacionais.

A sociedade não quer ruptura institucional nenhuma. Os empresários, os banqueiros, os dirigentes do agronegócio, os partidos políticos, os integrantes dos Poderes Judiciário e Legislativo, enfim, toda a sociedade organizada, não aceita o retorno a um regime totalitário. Afinal, todos sabem que a democracia é o modelo político mais bem sucedido da humanidade. Só com liberdade política, social e econômica teremos sucesso no projeto nacional de Brasil gigante pela própria natureza e com igualdade para todos. Se o Brasil tem futuro, não será marchando para a direita ou para a esquerda. O caminho é pelo centro, sem o ódio revanchista da esquerda e sem o extremismo fascista da direita.