Desde o início da pandemia, entre tantas lacunas culturais, entre tanta saudade de shows, peças e apresentações ao vivo, havia a tristeza de se ver fechada a tradicional quadra do “Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela”, onde ocorria festa, cerveja, feijoada e samba todos os finais de semana. Ela reabre amanhã para festejar os 120 anos de nascimento de seu fundador: Paulo Benjamin de Oliveira, ou, simplesmente, Paulo da Portela.

Ele fez tudo – e muito mais – pelo samba nas décadas de 1920, 1930 e 1940. Antes da Portela, a grande campeã dos carnavais cariocas com vinte e dois títulos conquistados, Paulo formou (com Antonio Caetano e Antonio Rufino dos Reis) os blocos/escolas “Quem nos faz é o capricho” e a maravilhosa “Vai como pode”.

Há de se destacar ainda a sua grande contribuição não apenas ao samba, mas, também, à formação de uma sociedade brasileira democrática no início e meados do século passado. Para se ter uma idéia do enorme preconceito que havia contra os sambistas, sobretudo se fosse negro, o genial Ataulfo Alves foi preso diversas vezes porque sempre carregava o seu violão, bem guardado, dentro da caixa. Naquela época, era comum se ver alguns compositores trabalharem na polícia. Pois bem, sempre havia um deles que ia falar com o delegado para soltar Ataulfo. Era a tal delegacia de costumes.

Pois bem, Paulo da Portela ensinou aos desavisados repressores que sambista tem valor. Se o problema era a roupa de malandro, ele conseguiu convencer os cantores e compositores a andarem de terno e gravata – pelo menos, os da Portela.

Além disso, Paulo da Portela batalhou a favor da participação da mulher no samba, fez com que a mulher fosse respeitada entre os sambistas – ele pessoalmente as buscava em casa, as levava para a quadra, e na madrugada as acompanhava de volta. Uma a uma. Respeitosamente.

E tem um acontecimento que pouca gente sabe: Paulo da Portela, o grande sambista do bairro de Oswaldo Cruz, foi quem serviu de modelo nos EUA para a criação do personagem Zé Carioca, de Walt Disney. Ele merece a honra de ter a quadra da escola reaberta (xô, vírus) para comemorar os 120 anos de seu nascimento.