Ela já era atriz antes de se tornar cantora profissional. Ficou conhecida, e foi reconhecida, principalmente por sua atuação no filme Xica da Silva (1976), de Cacá Diegues. Zezé Motta surge agora com seu novo trabalho musical, o CD O Samba Mandou Me Chamar, e vai apresentar esse repertório nesta sexta-feira, 18, no Teatro J. Safra, em São Paulo. Mas, antes disso, participa nesta quarta, 16, do lançamento de sua biografia Zezé Motta – Um Canto de Luta e Resistência, escrita por Cacau Hygino. Será às 19h, na Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista. Em entrevista ao Estado, a artista falou dessa sua fase e de seus projetos.

Sempre sorridente, Zezé conta que, logo no começo da carreira, lançou o disco Zezé Motta. “Logo no início da minha carreira, o meu primeiro LP, eu sou do tempo do LP (risos), que tinha a música Muito Prazer, Zezé, que a Rita Lee e o Roberto de Carvalho fizeram para mim”, recorda. “Esse trabalho era bem pop, tinha Moraes Moreira, Gilberto Gil, Caetano, Luiz Melodia, mas a gravadora achou que vendeu pouco, talvez fosse melhor eu gravar samba”, mas ela sentiu que ainda não era a hora.

Já no segundo trabalho, ela lembra que a história mudou. “Foi nesse que eu gravei Senhora Liberdade, de Wilson Moreira e Nei Lopes, e a gravadora ficou empolgada, pois fez muito sucesso, tocou nas rádios, e novamente veio a proposta de partir para o samba.” No entanto, Zezé explica que teve receio de ficar rotulada como sambista. “Assim, como vou gravar Milton Nascimento, Djavan, tinha uma listinha de pessoas que eu sonhava cantar as músicas um dia e que não eram ligadas ao samba, daí eu disse que não, ainda não era o momento.” Em 40 anos de carreira, Zezé recebeu, continuamente, trabalhos de diversos compositores. “Nesse período, recebia inúmeras composições, em fitas cassete, e na medida do possível eu ouvia esses trabalhos e percebi material bem interessante, de nomes como Serginho Meriti, Marquinhos PQD.”

E foi por intermédio de um ex-namorado que Zezé decidiu entrar no mundo do samba de cabeça. “Há questão de dez anos, eu tive um namorado que era compositor da Portela e eu fiquei muito influenciada por isso, daí comentei com ele que achava que estava na hora de gravar samba, pois já gravei Caetano, Gil, Chico, Francis Hime”, explica a cantora. Mas a história ganha novos contornos com a forma como foram escolhidas as músicas do CD.

“A gente preparou uma feijoada no Teatro Rival, cedido pela Angela Leal, e fizemos um evento apresentado pelo Haroldo Costa e todo mundo contribuiu com alguma coisa, até flores para enfeitar o local eu ganhei, só entrei com a carne e a cerveja”, afirma, acrescentando que “foi muita gente, até Nelson Sargento, e as pessoas se inscreviam, subiam no palco e apresentavam as canções”. E foram quase 200 músicas apresentadas na hora. “A gente gravou tudo, por umas quatro horas, fora as músicas que foram enviadas depois, foi um a loucura ouvir tudo isso depois”, revela Zezé. Foi o caso do sambista Arlindo Cruz. “Ele não pôde ir, pois estava fazendo um show, mandou e eu gravei o samba dele com ele, a canção Nós Dois. E, no CD tem ainda participação de alguns membros dos grupos Fundo de Quintal e do Bom Gosto, além do Xande de Pilares, com quem cantei Alma Gêmea.”

“Eu fiquei com esse material sonhando com o trabalho por 11 anos, pois não tinha gravadora”, diz Zezé. “Finalmente, meu empresário conseguiu a Coqueiro Verde, que se interessou em gravar, mas, nesse período, eu fui, em 2017, para Lisboa fazer uma novela e aproveitei para mostrar o CD demo para o diretor da novela, que se encantou com o trabalho e incluiu duas músicas na novela Ouro Verde. E agora a gente gravou o clipe com uma das músicas, Batuque de Angola. Eu tinha escolhido uma mais romântica, mas rolou essa que é bem animada.”

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Além das novas composições escolhidas, Zezé incluiu no repertório canções conhecidas. “Eu regravei Caciqueando, com o Fundo de Quintal, e Mais Um na Multidão, do Erasmo Carlos, Marisa Monte e Carlinhos Brown. E, apesar de Erasmo dizer que é um samba-rock, o maestro Celso Santhana puxou mais para o samba.”

Para a apresentação em São Paulo, Zezé garante estar bem animada. “Vou me apresentar com banda, mas será apenas um dia.” Quanto ao livro de memórias, que está sendo lançado agora, Zezé confessa que sempre falta alguma coisa. “São 51 anos de carreira e, de vez em quando, eu lembro de algo que devia ter colocado nele.”

Zezé anuncia ter alguns novos projetos na mira. “Eu vou fazer um filme com o Jeferson De, que se chama M8, já li o roteiro mas ainda não estou muito inteirada, mas já vou fazer prova de roupa.” Se a vida dela é agitada? Ela diz que se desdobra entre trabalhos. “Eu trabalho na Sociedade de Direitos Autorais e ainda sou vice-presidente do Retiro dos Artistas.”

ZEZÉ MOTTA – O SAMBA MANDOU ME CHAMAR

Teatro J. Safra. R. Josef Kryss, 318, Barra Funda, tel. 3611-3042. 6ª, às 21h30. R$ 40/ R$ 100.

ZEZÉ MOTTA – UM CANTO DE LUTA E RESISTÊNCIA

Autor: Cacau Hygino

Editora: Companhia Editora Nacional (256 pág., R$ 39,90)

Lançamento: Livraria Martins Fontes. Av. Paulista, 509. 4ª, às 19h.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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