Foi-se o tempo em que a mulher brasileira fazia figuração nos Jogos Olímpicos. Desde Atenas, em 2004, a delegação nacional apresenta um equilíbrio de gêneros (leia quadro) e, especialmente neste ano, justamente na Rio-2016, uma reviravolta é esperada. Pesquisas estatísticas apontam para a possibilidade de o Brasil, pela primeira vez, conquistar mais pódios femininos do que masculinos. Entre as candidatas às medalhas estão Maya Aguiar e Sarah Menezes (judô); Martine Grael e Kahena Kunze (vela); Barbara e Agata (vôlei de praia), Flavia Saraiva e a nova geração da ginástica. “A curva de medalhas femininas ainda está ascendendo, enquanto a masculina atingiu uma estabilidade. Seguindo o comportamento das duas, há grandes chances de a primeira ultrapassar a segunda neste ano”, afirma a professora da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo Katia Rubio. Os fatores que explicam a reviravolta seriam o aumento da qualidade dos treinos femininos e o acesso das atletas a técnicos de ponta.

Atual gerente de planejamento esportivo do Comitê Olímpico Brasileiro, a jogadora de vôlei Adriana Behar, medalhista de prata nos Jogos de Atenas 2004 e Sydney 2000, explica como ocorreu essa evolução:“Quando eu iniciei a minha carreira, a mulher tinha mais dificuldades. Passei por um momento no vôlei de praia no qual até a premiação do circuito era maior para os homens. Mas isso nunca me abalou, ao contrário, me deu força para brigar ainda mais.” Apesar de ainda lembrar das dificuldades do passado, Adriana também concorda que hoje, em algumas modalidades, “as mulheres podem chegar à frente dos homens.”

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Admitidas tardiamente na delegação brasileira, as atletas tentam compensar o atraso ao longo das edições olímpicas. A primeira brasileira a participar dos Jogos foi a nadadora Maria Lenk, em Los Angeles 1932 – o País já participava dos Jogos desde a edição de 1920. O primeiro ouro só veio em Atlanta 1996, com a dupla de vôlei de praia Jaqueline Silva e Sandra Pires. Mas em Londres 2012, elas já eram 48% da equipe nacional. Para compensar a diferença histórica, a proporção de medalhistas no total de brasileiras, 22%, é maior do que a dos homens do País, 15%. Para a pesquisadora Katia, isso se reflete diretamente na sociedade. “O atleta é uma referência de construção de identidade. Quando se tem uma mulher dedicada aos treinos, que compete e rivaliza com as melhores do mundo, ela também acaba transformando a imagem feminina.”

O impacto é notável em eventos amadores de esportes olímpicos, que têm apresentado aumento significativo no percentual de mulheres, com destaque para as corridas de rua. A Meia Maratona do Rio, que acontece no dia 29 de maio, terá pela primeira vez mais mulheres do que homens. Dos 13 mil participantes percorrendo 21km pela orla da cidade, 53% dos inscritos são mulheres. “Estamos assistindo à evolução feminina na participação em provas mais longas. Essa presença maciça também é bastante marcante na América do Norte, onde elas são maioria em quase todas as distâncias, perdendo somente em maratonas e percursos maiores. No Brasil, é uma tendência que está evoluindo rapidamente”, afirma Carlos Sampaio, sócio-diretor da Spiridon, organizador do evento.

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