O saldo político dos casos de violência da PM para Derrite

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite
O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite Foto: Divulgação

O secretário estadual da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PL), virou protagonista de uma crise na área depois que agentes da Polícia Militar, corporação que atua sob seu comando, protagonizaram uma sequência de episódios de violência e abuso de força em um intervalo de um mês.

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As fontes de pressão

Na segunda-feira, 2, um policial arremessou um homem de uma ponte na zona sul da capital paulista depois de uma abordagem sem registro de ocorrência criminal. Publicada nas redes sociais, a cena rendeu a instauração de um inquérito pela Corregedoria da PM, repúdios de Derrite e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), e a prisão do agente responsável pelo arremesso.

Em novembro, os casos de Gabriel Renan da Silva Soares, um jovem morto com mais de dez tiros por um oficial depois de tentar furtar de um supermercado; Marco Aurélio Cardenas, estudante de medicina baleado e morto em um hotel na Vila Mariana após uma abordagem frustrada; e Ryan Andrade, menino de 4 anos morto durante uma operação da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) em Santos, já haviam colocado a gestão da segurança paulista na mira da opinião pública.

A sequência de excessos policiais evidenciou um quadro mais amplo de truculência no estado, que data do início da gestão Derrite. A polícia de São Paulo matou 496 pessoas entre janeiro e setembro de 2024, maior número para o período desde 2020, quando houve 575 óbitos desse tipo.

Desde 2023, a alta da letalidade policial foi impulsionada por ações policiais na Baixada Santista. As Operações Verão e Escudo da PM, classificadas como “ações de retomada do território” pelo chefe da SSP, deixaram 84 mortos.

Apesar das denúncias da Defensoria Pública de São Paulo, que identificou execuções sumárias e extrajudiciais e as levou ao Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), e da imprensa — o portal UOL reportou que familiares de pessoas executadas relataram ameaças dos agentes e publicou um vídeo em que PMs lavam o sangue da casa onde um ajudante de pedreiro foi executado –, a conduta dos policiais na Baixada Santista foi estabelecida como uma espécie de “referência” para o Palácio dos Bandeirantes.

Derrite e Tarcísio não admitiram os abusos e, em mais de uma oportunidade, confrontaram questionamentos. Na época, o governador chegou a ironizar as denúncias: “O pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não estou nem aí”.

O próprio secretário, vale lembrar, já foi policial militar. Investigado por 16 homicídios em operações das quais participou, conforme reportou a revista Piauí, ele afirmou ser “vergonhoso” para um agente de farda não ter ao menos três ocorrências no currículo e disse ter deixado a Rota (Rotas Ostensivas Tobias Aguiar), tropa de choque da corporação, pelo excesso de violência. 

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A reação da política

A expectativa de que Derrite sofresse um desgaste político expressivo após os episódios recentes não se concretizou. A bancada do PT na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) marcou uma reunião com o procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, para denunciar a conduta do secretário, e parlamentares do PSOL prometeram pedir sua saída do cargo. Mas as críticas se restringiram à esquerda.

Ao site IstoÉ, o deputado estadual Delegado Olim (PP-SP) elogiou o trabalho do chefe da SSP. “Ele está sendo rigoroso e correto [ao punir os agentes envolvidos no arremesso da ponte]. Essas reações precisam ser rápidas, não dá para esperar o tempo de um processo administrativo. Os agentes precisam ser banidos da PM, porque são meia dúzia que sujam a imagem de uma instituição que faz um grande trabalho. Agora, se alguém morre em um hospital, você não demite o secretário da Saúde”, afirmou.

Para o parlamentar e correligionário, as críticas ao trabalho da Secretaria têm fundamento eleitoral. “O que está em jogo é Tarcísio, e não Derrite. PT e PSOL usam esses casos para bater no governador, porque ele é o adversário que derrota o [presidente] Lula em 2026”, disse. Olim é um dos integrantes da direita que não se aliam sistematicamente a Jair Bolsonaro (PL).

Lideranças de expressão nacional do bolsonarismo, como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), engrossaram a defesa de Derrite. O senador Jorge Seif (PL-SC), por sua vez, não mencionou o secretário, mas elogiou a conduta dos agentes que jogaram o homem da ponte.

Depois de repudiar o caso, Tarcísio garantiu que não demitirá o funcionário e elogiou os índices de segurança estaduais, conquistados sob sua gestão.

Ciro Nogueira, senador pelo Piauí e presidente do PP, partido de Derrite, disse que o trabalho do correligionário é digno de “aplausos” e que ele será candidato a governador de São Paulo em 2026 se o incumbente não disputar a reeleição — o mandatário é cotado para concorrer à Presidência se Bolsonaro não reverter sua inelegibilidade — em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

Alçado à SSP por um histórico de duas eleições com boa votação para a Câmara dos Deputados, em 2018 e 2022, Derrite deverá voltar às urnas com alianças políticas firmes e projetado pelo comando de forças policiais com alto emprego de violência.