Sempre que pode o governo de Jair Bolsonaro demonstra desprezo pela ciência e tenta sabotá-la. O cientista é um dos inimigos prioritários, um adversário a ser batido, um sujeito que ele quer desvincular das políticas de Estado. Seja analista de sistemas ou arqueólogo, seja médico ou engenheiro, Bolsonaro tenta como pode tirar-lhes o indispensável apoio para fazer ciência básica, que está por trás das evoluções tecnológicas e que alimenta o pensamento humano. Para ele, na inovação mora o diabo. Agora, em mais uma demonstração de obscurantismo, o governo quer cortar verbas orçamentárias do Ministério de Ciência e Tecnologia em 87%, de R$ 690 bilhões para R$ 89 bilhões. Está claro que mais uma vez ele tenta asfixiar a pesquisa, condenando o Brasil a ser um permanente importador de inteligência e plantador de soja. A medida atinge principalmente o fundo que alimenta as bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Até o ministro da Ciência e Tecnologia, o astronauta Marcos Pontes, normalmente alheio a essas questões fundamentais, considerou a proposta de corte de recursos, que ainda precisa passar pela Câmara, “uma falta de consideração” com a pasta. “Os cortes de recursos sobre o pequeno orçamento de ciência no Brasil são equivocados e ilógicos”, afirmou. Para chegar a ponto de Pontes reclamar de alguma coisa é porque se trata de uma demonstração cabal de extrema falta de sensibilidade e de critérios da parte de seus chefes. Os problemas se acumulam na área de pesquisa por falta de verbas. O supercomputador Tupã, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), funciona claudicante e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) ameaça parar mais uma vez a produção nacional dos imprescindíveis radiofármacos, usados no diagnóstico e no tratamento do câncer, por exemplo. Diante disso, um novo corte no orçamento é uma espécie de atrocidade.

O problema é que o governo tenta reduzir gastos onde já houve um encolhimento importante neste ano, com o objetivo permanente de desidratar a pesquisa científica e promover a ignorância. A ciência brasileira vive hoje em estado vegetativo e Bolsonaro trabalha para aumentar a situação de penúria. Mais do que uma obsessão mesquinha trata-se de parte de uma estratégia negacionista cujo objetivo é emburrecer o País e controlar as pessoas como robôs. O governo dá sucessivas demonstrações de que despreza a ciência e a inteligência, mas seu principal alvo são os indivíduos que pensam por si próprios, que tem autonomia para recusar a ideologia do ódio propagada por Bolsonaro e que o enxergam criticamente. E os cientistas, certamente, fazem parte desse grupo.