O s números recentes mostram que a gestão Bolsonaro não foi tão destrutiva na economia quanto em outros setores. O rombo fiscal que se espera em 2023 será causado pelas promessas eleitoreiras, e não por despesas fora de controle. O atual governo não aumentou em quatro anos o gasto com funcionalismo, por exemplo. E há uma visível recuperação no nível de empregos
no pós-pandemia.

Isso não exime a sua atual administração por políticas populistas e irresponsáveis. É o caso do garrote no preço dos combustíveis, que abaixou artificialmente a inflação e também drenou recursos dos estados. Os governadores serão obrigados agora a preparar aumentos de impostos. Os desembolsos desesperados pela reeleição também esvaziaram os cofres, causando um apagão na máquina pública neste final de ano.

Visão prepotente do atual governo impediu o debate público. Isso é conveniente para a nova gestão, que usa a miséria como escudo

Um dos maiores problemas, no entanto, foi a visão centralizadora e autoritária na condução macroeconômica. Paulo Guedes trombou com parlamentares, não conseguiu negociar reformas com o Congresso, nem convencer a sociedade da importância da racionalização do Estado. Engavetou projetos de modernização. Ao invés de abraçar uma rara unanimidade pela reforma tributária, quis dar uma rasteira em todos – entes federativos, congressistas e setor produtivo – ressuscitando a CPMF. Em vez
de apontar as vantagens da independência do Banco Central, criticou a instituição quando esta apontou a gastança insensata.
Essa visão prepotente impediu que o debate público amadurecesse. O ministro fez muito sucesso em auditórios de bancos, mas ficou devendo no corpo a corpo com empresários e principalmente no diálogo com a população. Asfixiou os institutos públicos de pesquisa e desprezou especialistas em desigualdade. Guedes usou a bandeira do liberalismo para minar as instituições e negligenciou a busca de consensos, que é a base de qualquer democracia.

O resultado é que o País se vê refém agora de um debate estéril sobre a contraposição entre responsabilidade fiscal e social. A discussão honesta sobre os números, ao contrário, é essencial para que a população avalie como seu futuro é comprometido por meio de mistificações. Infelizmente, o retrocesso bolsonarista parece ser conveniente para a próxima gestão. Ela já sinaliza que usará o escudo da miséria para sacar soluções mágicas, o que no futuro levará apenas a novas decepções.