Em dezembro de 2016, o vírus da febre amarela ultrapassou os limites da área endêmica (região amazônica) e rapidamente causou o maior surto dessa doença infecciosa nas últimas décadas: entre julho de 2017 e maio deste ano, foram 1.261 casos e 409 mortes decorrentes da enfermidade. Devido a esse fenômeno, a circulação do vírus se expandiu para áreas que não eram de risco, como por exemplo, as regiões metropolitanas, principalmente, dos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo,
Rio de Janeiro e Bahia.

Os fatores que justificam essa expansão resultam de uma combinação entre um longo processo de ocupação desordenada dos espaços de mata, a existência de áreas com grande concentração de pessoas que não haviam sido vacinadas e uma força surpreendente de transmissão do vírus causador dessa morbidade.

Todos os casos confirmados decorrem do ciclo silvestre, cujos principais hospedeiros e amplificadores são os macacos. Ao injetar um macaco doente, o mosquito silvestre adquire o vírus e, após alguns dias, é capaz de transmiti-lo picando outros macacos ou humanos que adentrarem áreas de mata– na maioria homens (82,8%), devido a atividades laborais. Porém, se a pessoa com febre amarela silvestre vier a ser picada pelo mosquito Aedes aegypti (que vive nas cidades), o inseto poderá se tornar fonte para um surto urbano.

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Sentinelas

No ciclo urbano de transmissão, o homem é o único hospedeiro e o vírus se propaga a partir de mosquitos Aedes aegypti infectados. A doença não se alastra de macaco para humanos ou de pessoa a pessoa. A morte de macacos é o primeiro
alerta para evidenciar as regiões onde o vírus da febre amarela está circulando, portanto esses primatas são considerados sentinelas importantes à vigilância. Diante do cenário de disseminação da doença, a vacina é a principal ferramenta de prevenção e bloqueio, pois qualquer pessoa não vacinada, independentemente da idade ou sexo, que se exponha em áreas afetadas, pode contrair o vírus. No período risco (58,3%), é justamente aquele de áreas recém afetadas onde a vacina não estava recomendada.

Considerando o grau de perigo, as ações de vacinação do Ministério da Saúde, através da Secretaria de Vigilância em Saúde, são fundamentais em cidades com elevado contingente populacional. Para bloquear e reduzir a incidência da doença, operações de controle foram ampliadas e, só neste ano, o Ministério da Saúde já adquiriu mais de 25,1 milhões de doses, buscando atingir a meta de cobertura de 95% da população que vive em áreas de risco de expansão da doença.

Riscos da infecção

A pessoa infectada pelo vírus começa a apresentar indícios da doença entre três e seis dias após ter sido picada pelo mosquito. Febre, calafrios, dor de cabeça intensa e no corpo em geral, vômitos e fraqueza compõem o quadro de sintomas. A maioria das pessoas melhora após superar a fase aguda. No entanto, até 15% apresentam um breve período (de poucas horas a um dia) sem sintomas e, então, desenvolvem a forma mais grave da doença, com icterícia (coloração amarelada da pele e do branco dos olhos), hemorragia (especialmente gastrointestinal) e, eventualmente, choque e insuficiência de múltiplos órgãos. Cerca de
20% a 50% das pessoas com o tipo grave da doença podem morrer.

Tratamento

Com paciente sob hospitalização, o tratamento é apenas sintomático. Nas formas graves, o atendimento se dá em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), para reduzir as complicações e o risco de óbito. Medicamentos como AAS e Aspirina devem ser evitados, já que seu uso pode favorecer hemorragias. Pessoas a partir de nove meses de idade, residentes nos municípios definidos para a campanha devem ser vacinadas em dose padrão (0,5 mL) ou dose fracionada (0,1 mL). Por ser aplicada em áreas populosas com risco de expansão da doença, a dose fracionada está em consonância com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A vacina de febre amarela é reconhecidamente uma das mais eficazes e seguras.Desde abril de 2017, o Brasil adota o esquema vacinal de apenas uma dose durante toda a vida. O Sistema Único de Saúde oferece a proteção e, quem já se imunizou, não precisa mais se preocupar. Por se tratar de doença grave com risco de dispersão para outras áreas do território nacional e internacional, todo caso suspeito deve ser comunicado em até 24 horas às autoridades de Vigilância em Saúde.