Sejamos realistas porque olhar a realidade não mata ninguém – o que mata é tiro. O Rio de Janeiro não é mais o Rio de Janeiro da Copacabana chamada “princesinha do mar” (na intimista e romântica voz de Dick Farney); o Rio de Janeiro não é mais o Rio de Janeiro da alegre “calçada cheia de gente” (na poesia do não menos romântico Antonio Maria); o Rio de Janeiro não é mais o Rio de Janeiro que “continua lindo” (no politizado samba de Gilberto Gil). O Rio de Janeiro morreu. E foi morrendo nas mãos de um poder público podre que jogou no lixo a segurança de sua população. Sejamos, mesmo, realistas: é tiro de traficante que manda de fato no Rio de Janeiro, e seguirá mandando cada vez mais se admitirmos (realisticamente) a falência das Unidades de Polícia Pacificadora – última tentativa de paz que ainda nos alentou. A prova disso, mais uma vez, veio na semana passada do Compelxo do Alemão. Nele, nos últimos cinco anos, o número de confrontos aumentou 13.746% (1.555 trocas de balas somente em 2016). Sem desviar o olhar da realidade poeirenta e chapa quente do morro, é bom lembrar que foi nesse local que se inaguraram as UPPs, e agora, como se viu nos últimos dias, é também nesse local que a polícia teve de erguer uma torre blindada e nela se confinar para tentar sobreviver. Quem não sobrevive mais na favela, desde a segunda-feira 24, é o garoto de treze anos Pedro Henrique de Morais, morto em meio a tiroteio; quem não sobrevive mais na favela, desde a quarta-feira, é Felipe Farias, igualmente morto devido a confrontos armados. Foram cinco mortes em seis dias. Uma infinidade de casas, de gente pobre e idosa que trabalhou a vida inteira por um cantinho de paz, está com as paredes marcadas por tiros de fuzil – tiros dos traficantes e tiros dos policiais de um Rio de Janeiro que morreu.

R$ 70,6 bilhões

é o valor do rombo dos fundos de pensão no ano passado, segundo relatório da Superintendência Nacional de Previdência Complementar. Os fundos reúnem 307 entidades que cuidam de 1.137 planos de benefícios. O déficit aumentou absurdamente entre 2013 e 2014, passando de R$ 21 bilhões para R$ 31 bilhões. No ano seguinte disparou: R$ 77,8 bilhões.

SENADO
Sábios senadores nos tempos da Lava Jato

41
Divulgação

Por 75 votos a zero, os senadores aprovaram (primeiro turno) o fim do foro privilegiado para si próprios e demais 35 mil autoridades do País (fica valendo para presidentes da República, do STF e do Legislativo). Não o fizeram porque uma epifania os colocou como relés mortais. Fizeram-no, isso sim, para que o STF não o fizesse. Mais: com a Lava Jato nos calcanhares, é bom cair para a primeira instância e sair das mãos da Corte: se condenados, há uma segunda instância para recorrer antes de irem presos. Os senadores também aprovaram a Lei de Abuso de Autoridade. Tiveram decência: retiraram o item que dava ao réu o direito de processar juiz que tivesse sentença condenatória reformada.

ENERGIA
Luz bilionária na privatização

Entrarão no Brasil nos próximos anos bem-vindos R$ 12,7 bilhões. O governo federal conseguiu atrair tal investimento ao diminuir o tamanho do Estado no setor de transmissão elétrica. Repassou considerável parcela dessa área (feroz aos cofres públicos) à iniciativa privada. Entraram no negócio investidores tradicionais do setor de eletricidade e fundos de investimento.

STF
Bruno volta ao futebol da cadeia

43
Divulgação

O mais novo ministro do STF, Alexandre de Moraes, deu aula de Direito na Corte. Bruno estava preso (pena de 22 anos) pela morte de Eliza Samudio, cujo corpo até hoje não tem sepultura digna porque ele não diz aonde está. Em fevereiro Bruno foi solto por Marco Aurélio Mello para aguardar julgamento dos recursos em liberdade, sob alegação de inércia do Judiciário. O MP recorreu. O relator Moraes foi ao ponto: não dá para falar em demora da Justiça quando é o próprio advogado de defesa que a entope de recursos.

EUA
É o louco blefando com o demente

44
Divulgação

Donald Trump completou cem dias de Casa Branca no sábado 29. Está mais Donald Trump do que nunca – um homem que faz do planeta uma bolsa de aposta na oscilação de seu humor entre a hora de dormir e a hora de acordar. Primeiro ele declarou que a “estratégia da paciência” se esgotara em relação à Coreia do Norte e seu ditador, Kim Jong-un. Despachou então para a região um submarino nuclear e montou um “escudo” antimíssil, subestimando por algumas horas (o que já é muito) o fato de que do outro lado da península manda um demente. Trump não atacará a Coreia do Norte, e deixou isso claro numa reunião com senadores na Casa Branca, na qual voltou a defender o diálogo. Trump joga e blefa. Tomara que nenhum país pague para ver.

LAVA JATO
Por que José Dirceu será solto em breve

42
Divulgação

Quando o STF decidiu pela extinção da presunção de inocência em condenações na segunda instância (o réu começa a cumprir pena já nesse degrau de recursos e não mais no terceiro), acabou abrindo a brecha para que condenados em primeira instância não fiquem presos – caso contrário, essa seria a única etapa processual. Tal lógica beneficiou dois figurões da Lava Jato, soltos na semana passada pelo próprio STF, agora obrigado a ser coerente com aquilo que anteriormente decidiu. Assim, José Carlos Bumlai (foto)e João Cláudio Genu tiveram suas prisões (decretadas por Sergio Moro) revogadas. O STF enfraqueceu a Lava Jato. É nesse raciocínio jurídico que José Dirceu poderá ser solto em breve.