A costumados à vida fácil, a rotina dos herdeiros americanos ficou um pouco mais complicada nos últimos tempos. A moda entre os donos de grandes fortunas nos EUA é doar tudo em vida para incentivar seus filhos a correrem atrás de seu próprio sucesso financeiro. A lista de famosos que ameaça não repassar seus dólares é grande. Os atores Ashton Kutcher e Mila Kunis, o cantor Sting e o cineasta George Lucas já revelaram que pretendem agir assim. Um dos homens mais ricos do mundo, Bill Gates, criou a sua própria instituição de caridade para destinar a maior parte dos seus bilhões para causas globais urgentes, como a proteção do meio ambiente, o combate à pobreza e o estímulo à educação.

PARTILHA Shaquille O’Neal: ex-craque do basquete exige que os seis filhos estudem e sigam carreiras próprias (Crédito:Divulgação)

Os mais recentes nomes dessa lista são o ex-jogador de basquete Shaquille O’Neal e o apresentador de TV Anderson Cooper. Enquanto o craque da NBA cutucou a própria família ao dizer “nós não somos ricos, eu sou rico”, o jornalista não poupou nem o bebê Wyatt, seu filho de apenas um ano de idade: Cooper garantiu que ele não herdará sua fortuna de US$ 200 milhões. “Não vou deixar um pote de ouro quando eu for embora”, afirmou. Ele segue o exemplo de sua mãe, a estilista Gloria Vanderbilt, que fez questão de não lhe deixar dinheiro — “apenas” alguns milhões de dólares em propriedades.

O assunto não envolve apenas generosidade, mas estratégias para lidar com as altas taxas de impostos sobre heranças nos EUA. Dependendo do valor, o governo pode ficar com até 40% do legado. O valor varia bastante: quanto mais rico, maior a chance de driblar o fisco. Apesar de O’Neal dizer que quer ver seus filhos construírem carreiras por conta própria, eles dificilmente serão pobres, uma vez que a fortuna do jogador é estimada em US$ 400 milhões, cerca de R$ 2,2 bilhões. O número de herdeiros também é grande: o ex-jogador da NBA possui seis filhos.

OPORTUNIDADE Anderson Cooper e o bebê Wyatt: “não deixarei um pote de ouro” (Crédito:Divulgação)

É raro ver atitudes semelhantes no Brasil porque a legislação que regula heranças é diferente. O advogado Gabriel Toffoli explica que, mesmo se a pessoa deixar um testamento, 50% do valor tem de ser repassado aos herdeiros diretos, como cônjuge e filhos. “Aqui não adianta fazer um testamento deixando 100% da riqueza para uma instituição de caridade porque é ilegal. E o que acontece nos EUA é mais marketing do que filantropia.” Toffoli afirma ainda que aqui não existe o conceito de “herança de pessoa viva”. “Se o interessado não quiser deixar nada para os herdeiros, terá de torrar tudo ainda em vida.”