A avidez dos candidatos pela contratação de marqueteiros que tiveram problemas com a operação Lava Jato pode ser o prenúncio de que as campanhas voltarão a ficar mais caras. João Santana é o melhor exemplo. Ele pilotou a reeleição de Lula e as duas campanhas de Dilma. Foi preso por lavagem de dinheiro e, agora, vai comandar a estratégia de Ciro Gomes. O publicitário Renato Pereira, por sua vez, está prestando consultoria para Marcelo Freixo, que concorrerá a governador do Rio de Janeiro. Pereira fez delação premiada e confessou ter participado de operação de caixa dois com o MDB fluminense. Ele já trabalhou para os ex-governadores Sergio Cabral e Pesão, entre outros políticos, além de ter no currículo a criação do “Pato da Fiesp”. “Apesar da Lava Jato, não houve nenhuma mudança estrutural no sistema político brasileiro. O custo das campanhas continua alto”, argumenta Bruno Carazza, doutor em direito. Para ele, os políticos conseguiram driblar a proibição das doações de pessoas jurídicas (vetada pelo STF em 2018) utilizando as verbas dos fundos eleitorais. “O que antes vinham das empresas agora vem dos impostos.”

Santana e Pereira são exemplos de que a “geração Lava Jato” ainda tem muito espaço no marketing político. O presidente do PDT, Carlos Lupi, justifica que Santana se “dedica a estudar o comportamento do eleitorado” e que para ganhar a eleição é necessário contratar o melhor profissional possível. Sobre o envolvimento de Santana em casos de corrupção, Lupi é enfático: “ele já confessou e pagou pelos erros, ninguém pode ser condenado eternamente”. Na mesma linha opina Freixo. O deputado já disse que “não há condenação perpétua sobre ninguém”. Santana é valorizado entre políticos, especialmente, por ter conseguido a reeleição de Dilma em um cenário adverso. Ele conseguiu neutralizar as críticas à petista e construiu uma narrativa vencedora para o horário político. Hoje, ele monta a estratégia de Ciro Gomes em vídeos nas redes sociais. A ideia é amenizar a postura agressiva do ex-governador, além de abrir uma comunicação com os jovens. Já Pereira tem atuado nas redes sociais com mensagens para grupos em que Freixo mais sofre rejeição, como os policiais. Mesmo com o argumento de que os marqueteiros já pagaram sua dívida com a sociedade, fica no ar um sentimento de impunidade e de triunfo da velha política.

GURU Uma espécie de Olavo de Carvalho, o ideólogo Steve Bannon deve dar o tom agressivo e de descrédito das instituições (Crédito:Andrew Kelly )

A volta dos antigos marqueteiros também indica que a era das redes sociais não vai suplantar a comunicação tradicional via TV. O professor de marketing político Duílio Fabbri Júnior ressalta a dependência de políticos em relação a esse profissional. “O candidato não foge a um roteiro pensado pelos marqueteiros. É uma narrativa que se constrói com meses de antecedência, com os elementos da jornada do pretenso herói.” Como a eleição de fato já começou, adiantada por Bolsonaro, os principais candidatos devem escolher seus marqueteiros até o fim do ano. O PT ainda patina. Pode ter no comando do marketing Franklin Martins, que se desgastou ao defender a regulação dos meios de comunicação (eufemismo para censura). Também sondou o publicitário Marcos Aurélio de Carvalho, que foi o grande operador das redes sociais de Bolsonaro em 2018 (ele controlava os robôs). Doria fez várias reuniões com publicitários, mas ao que tudo indica manterá Daniel Braga, que já participou das suas duas campanhas. Mandetta conversa com o baiano Raimundo Luedy. O senador Rodrigo Pacheco já conversou com o mineiro Paulo Vasconcelos. O negócio que envolve cifras milionárias está aquecido.

Com as armas de Trump
Jair Bolsonaro sonha replicar a experiência do ex-presidente americano. Steve Bannon e Jason Miller têm mantido intenso contato com Eduardo Bolsonaro

No mundo bolsonarista, o ego dos filhos do presidente é um empecilho para encontrar um comandante no marketing. A saída foi importar os antigos assessores de Donald Trump. Steve Bannon, que esteve preso até recentemente, continua sendo uma grande referência para o clã. Junto com ele vem Jason Miller, ex-assessor de comunicação da Casa Branca. Os dois enxergam em Bolsonaro uma das únicas opções no cenário internacional para a direita radical.

CONSERVADOR Ex-assessor de Trump, Jason Miller, foi interrogado pela PF no inquérito que investiga milícias digitais (Crédito:DREW ANGERER)

A aproximação é buscada de forma fervorosa desde 2019 pelo deputado Eduardo. Mas foi nas reuniões da CPAC, um think tank conservador, que a relação engrenou. Bannon prioriza a agressividade e promove as fake news, usando nos EUA a estratégia de desacreditar as instituições e disseminar notícias falsas. O resultado foi a invasão ao Capitólio. Miller esteve com a família Bolsonaro no Brasil e chegou a ser detido pela PF. Os marqueteiros importados não assustam os adversários, já que tentaram sem sucesso levar sua influência para a Europa, mas não obtiveram sucesso. As negociações que envolvem a filiação
do presidente em algum partido e fontes próximas ao governo especulam que um possível indicado para a coordenação de campanha de Bolsonaro em 2022 será o empresário Otávio Fakhoury, presidente do PTB em São Paulo e investigado em dois inquéritos no STF. Ele é acompanhado de perto por Eduardo Bolsonaro e teria carta branca para negociar até a filiação do ex-capitão.