Perspectiva2022/Entretenimento

O arrefecimento relativo da pandemia do coronavírus, no final de 2020, levou o setor cultural a esboçar uma reação: produções foram reagendadas e um certo tom de otimismo surgiu no ar. Era, no entanto, uma sensação falsa: as novas ondas e variantes obrigaram artistas e profissionais a ficar outro ano em casa, amplificando uma crise que já era (e continua) dramática. Por esperança – ou uma compreensível falta de opção – o setor respirou no final de 2021. Com o avanço da vacinação e protocolos mais eficazes de segurança, gerados pela experiência, os profissionais voltaram a acreditar que 2022 pode, enfim, ser o ano do retorno aos palcos. Dependerá de uma série de fatores – da virulência da Ômicron ao projeto de vacinação infantil, finalmente anunciado pelo caótico Ministério da Saúde.

ROCK IN RIO Iron Maiden: banda inglesa é o destaque da noite de abertura do festival, em 2/9 (Crédito:JOHN McMURTRIE)

Realismo ou desespero, a verdade é que os grandes produtores culturais anunciaram as datas de festivais para o público, o que, até pouco tempo, eram concebíveis apenas na ficção. É o caso do Rock in Rio, maior evento musical do planeta, que acontecerá entre 2 e 11 de setembro e reunirá os maiores artistas da atualidade, entre eles Iron Maiden, Guns ‘N’ Roses, Coldplay, Post Malone, Justin Bieber e Green Day, além dos brasileiros Capital Inicial, Alok e Ivete Sangalo. O site do festival informa que muitos dias já estão com ingressos esgotados, o que significa que receberão cerca de cem mil pessoas. Somem-se a elas as 20 mil dos postos de trabalho temporário. Outra grande atração que anunciou novas datas após o adiamento da turnê em 2020, foi o grupo Kiss. De 26 de abril a 1 de maio, os mascarados se apresentarão em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e na cidade paulista de Ribeirão Preto. A produtora, Mercury Concerts, divulgou depoimento em que o vocalista e baixista Gene Simmons critica o governo federal brasileiro e faz um apelo ao público: “por favor, vacinem-se e não escutem políticos idiotas. Escutem a ciência e não deixem de se imunizar com as duas doses. Muita gente pode morrer porque alguns políticos dizem que a vacina é de mentira”, declarou Simmons.

“Por favor, vacinem-se e não escutem políticos idiotas. Muita gente pode morrer porque um deles diz que a vacina é de mentira” Gene Simmons, vocalista do Kiss

A sua fala critica o comportamento do presidente Jair Bolsonaro e do secretário de Cultura, Mário Frias, que tentam fazer de tudo para boicotar as vacinas e até entraram na Justiça contra o passaporte vacinal em produções que recebam incentivos federais, como a Lei Rouanet. Na cidade de São Paulo, ainda vale o bom senso – e a exigência de que em shows com público acima de 500 pessoas só entrem no local as que comprovarem vacinação.

MUSICAL Da Broadway para São Paulo: “Chicago” chega pela primeira vez ao Brasil (Crédito:Divulgação)

A retomada não é apenas uma questão de amor à arte, mas, principalmente, de sobrevivência. O setor “que foi o primeiro a parar e o último a voltar” acumula prejuízos sucessivos. Segundo a Abrape (Associação Brasileira dos Promotores de Eventos), mais de 530 mil produções – entre peças de teatro, congressos, shows, rodeios – foram canceladas ou adiadas em 2021. A entidade afirma que isso fez com que a área deixasse de faturar R$ 140 bilhões só no ano passado. O drama não é apenas financeiro, mas social: cerca de 450 mil trabalhadores foram demitidos no período. A luz no fim do túnel surge quando olhamos para o cinema e teatro: “Homem- Aranha: Sem Volta para Casa” foi a maior abertura da história do cinema no País, com cinco milhões de espectadores e bilheteria de R$ 105 milhões até dezembro de 2021. Mesmo abrindo em formato de curta-temporada, os fãs de musicais comemoram a chegada do espetáculo “Chicago”, estrelado por Emanuelle Araújo, Paulo Szot e Carol Costa. A estreia está marcada para 20 de janeiro, no Teatro Santander, em São Paulo.

Apesar da vontade de voltar ao normal, muitos produtores já começam a enfrentar a realidade de que a situação ainda está longe de ficar sob controle, principalmente em grandes eventos populares, como o Carnaval, cancelado na maioria das capitais. O idealizador do Rock in Rio, Roberto Medina, não esconde, porém, a esperança de que o seu festival simbolize a volta da sonhada normalidade: “Percebi que as armas que tenho para tornar o mundo melhor são a música e o festival. É o que eu sei fazer bem”.