Michel Houellebecq, o “enfant terrible” da literatura francesa, retorna às livrarias com um novo romance, “Serotonina”, uma obra sombria e comovente na qual ele parece ter antecipado a revolta dos “coletes amarelos” na França.

O autor francês mais lido no exterior decidiu, segundo seu editor, afastar-se da atenção midiática. Mas seu livro, que promete se tornar um sucesso de vendas, é um dos mais esperados na França, onde será publicado nesta sexta-feira, e no resto da Europa, onde poderá ser encontrado a partir da semana que vem.

A editora francesa Flammarion previu uma tiragem excepcional de 320.000 exemplares (a tiragem média para um romance na França é de cerca de 5.000 exemplares).

Na Alemanha, onde o livro estará nas livrarias na segunda-feira, prevê-se uma tiragem de 80.000 exemplares, incomum para um livro estrangeiro. Na Espanha, sairão em circulação 25.000 exemplares em castelhano.

Este é o primeiro livro de Houellebecq desde sua polêmica obra “Submissão”, um romance em que descreve uma França governada por um islamita, que foi publicado há quatro anos, no mesmo dia do ataque à revista satírica Charlie Hebdo.

“Serotonina”, o sétimo romance de Houellebecq, de 62 anos, mergulha o leitor no coração da França rural desesperançada. Escrita meses antes do nascimento dos “coletes amarelos”, o escritor parece ter antecipado este movimento, que representa o grito de socorro da França profunda, que nenhum responsável político viu chegar.

Com frequência acusado de cinismo, o escritor mostra muita empatia quando descreve o desespero dos agricultores diante da crise.

O autor, que recentemente elogiou o protecionismo de Donald Trump, faz um retrato sem concessões da política liberal da União Europeia, culpada segundo ele de todos os males.

Além de descrever uma violência social cruel, “Serotonina” fala também da violência íntima, tão terrível quanto, a de um homem egoísta que caiu em depressão devido a uma dor de amor.

– “Profeta dos coletes amarelos” –

Há várias semanas houve um amplo eco na imprensa internacional sobre o livro, e muitos se surpreendem com seus dotes de profeta.

Houellebecq “volta com um romance que põe em evidência a cólera que cresce há muito tempo nas províncias francesas”, estima The Sunday Times.

Em seu livro, “o enfant terrible das letras francesas” não faz nada além de “prever o destino trágico da civilização ocidental”, afirma The Telegraph.

O jornal espanhol El País lembra que uma das cenas centrais do livro é o bloqueio de uma autopista por parte de agricultores em cólera contra Paris, e que o protagonista define a União Europeia como “uma grande puta”.

“O protesto termina em um confronto sangrento com a polícia, como se o sismógrafo houellebecquiano tivesse antecipado os coletes amarelos”, acrescenta o jornal, elogiando seu “olfato indiscutível”.

O jornal La Razón descreve “Serotonina” como “um retrato sem concessões da Europa atual”, enquanto o jornal argentino La Nación, que elogia “os dotes de vidente do polêmico” ensaísta, vê a obra como “uma cruel radiografia da convulsa França dos ‘coletes amarelos’ e a derrubada definitiva da social-democracia europeia”.

O alemão Frankfurter Rundschau chega à mesma conclusão e qualifica Houellebecq de “profeta dos coletes amarelos”.

O jornal italiano de direita Il Giornale compara Houellebecq com o grande escritor católico Georges Bernanos. “‘Serotonina’ é um novo capítulo de uma obra necessária para entender para onde o mundo vai… e mudar de direção”, afirma o jornal.