“Os artistas e a platéia estão loucos para retomarem a vida interrompida em 2020” Miguel Briamonte, maestro (Crédito:Divulgação)

A se contar pelo número de espetáculos em cartaz, quem visitasse a capital paulista antes da pandemia poderia acreditar que estava na Broadway, em Nova York, ou no West End, em Londres, os maiores centros do teatro musical no mundo. São Paulo ocupava então a terceira posição desse mercado global, oferecendo ao público um roteiro repleto de grandes atrações em cartaz – de O Fantasma da Ópera à Noviça Rebelde, passando por Miss Saigon e A Bela e a Fera, entre outros. Com o coronavírus, os palcos ficaram vazios de uma hora para a outra, assim como as poltronas das plateias.

O mês de março de 2022 pode ser considerado o marco do renascimento do showbiz no País, setor que respondia por 4,3% do PIB brasileiro e gerava 23 milhões de empregos. Segundo a Associação Brasileira de Promotores de Eventos, a expectativa é de aproximadamente 600 mil eventos sejam realizados até o fim do ano – e os musicais são uma fatia importante dessa retomada. Um dos destaques da temporada é Chicago, criação do lendário coreógrafo Bob Fosse e sucesso na Broadway desde 1996. O enredo, que elenca os crimes de uma charmosa turma de dançarinas de cabaré, cai como uma luva para a realidade do mundo digital e das celebridades-relâmpago. O elenco da versão nacional traz como protagonista o cantor Paulo Szot, estrela que já se apresentou nas maiores casas de ópera do mundo, entre elas o Scala, de Milão, e o Metropolitan, de Nova York. Szot, que divide o palco com Emanuelle Araújo e Carol Costa, foi o primeiro brasileiro a receber um Tony Award, o maior prêmio do teatro americano, além de ser indicado ao Lawrence Olivier Award, do Reino Unido.

PALCO Jennifer Nascimento em Donna Summer: “sonho em ver o público sem máscaras” (Crédito:Divulgação)

Inspirado na vida da rainha da dance music, Donna Summer é outro musical que renasce. Chegou a estrear em março de 2020, mas a temporada foi encerrada duas semanas depois: nem todos os integrantes do elenco dirigido por Miguel Falabella estarão de volta. O ator Edson Montenegro, que interpretava o pai da cantora, foi uma das vítimas fatais da Covid. Jennifer Nascimento, que faz o papel de Donna Summer, conta que a incerteza criou uma “montanha russa de emoções” entre os artistas e a equipe. “Estou otimista com essa nova fase”, afirma. “Mas ainda sonho com o momento em que verei o público sem máscaras, cantando e sorrindo conosco.”

O maestro Miguel Briamonte, que esteve à frente das principais montagens brasileiras e hoje é responsável pela supervisão musical de Família Addams, acredita que o mercado retomará seu vigor. “Pelo lado dos artistas, está todo mundo muito ansioso para voltar. Sinto que o público também está ávido para assistir a espetáculos presenciais, ninguém mais aguenta ver lives e streaming”, diz Briamonte. “Temos de retomar os projetos interrompidos de forma brusca em 2020.” Família Addams, outro triunfo que estreou na Broadway em 2009, volta aos palcos paulistas em março, com Daniel Boaventura e Marisa Orth nos papéis principais. “A produção hoje é uma outra realidade, temos de fazer testes todos os dias”, diz Boaventura. “O ritmo de trabalho é mais intenso, acho que a gente se acostumou mal na pandemia. Mas não posso reclamar: estou amando estar de volta”.

ROTINA Boaventura, de Família Addams: “hoje é outra realidade” (Crédito:Divulgação)

Retomada

Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que, em 2018, os musicais movimentaram R$ 1 bilhão na economia paulista e gerou mais de 12 mil empregos diretos e indiretos. Para cada real investido por meio das leis de incentivo, o governo arrecadou R$ 1,92. O relatório contraria o discurso do governo federal, sempre crítico dos mecanismos de fomento. Com apoio ou sem, a realidade é uma só: a capital brasileira dos palcos está de volta.

Terror da Broadway chega ao brasil

O público brasileiro não está acostumado a ver musicais de terror, mas Sweeney Todd – O Cruel Barbeiro da Rua Fleet pretende mudar esse princípio: estrelado por Rodrigo Lombardi e Andrezza Massei, a aclamada adaptação de Stephen Sondheim chega a São Paulo em 18 de março. “Depois de negociar os direitos da peça durante três anos, estávamos preparados para estrear em março de 2020”, lembra a produtora-geral, Adriana Del Claro, que teve de esperar mais dois anos. Ela admite que o processo de escolha do elenco sofreu alterações por causa da pandemia. “Tivemos mais de 1.200 inscritos nos testes, mas chamamos apenas 120 para participar das audições”, afirma Adriana.

Divulgação