Era uma vez um reino muito festivo. Um reino querido por todos, com um povo alegre e acolhedor.

Gente de todas as partes do mundo vinha apreciar essa felicidade e desfrutar das belezas naturais do reino.

Por séculos foi assim.

Até que, um dia, tudo mudou.

Nesse reino tão especial, uma enorme apatia se abateu.

Alguma coisa, que ninguém soube explicar, aconteceu e a alegria, as festas, a energia do povo aos poucos, foi se esvaindo.

Magicamente, o povo do reino dormiu.

Dormiu mesmo, cedendo a um inexplicável cansaço.

Claro que não foi assim, de uma hora para outra.

Foi um processo lento e gradual.

Exatamente por isso, boa parte do povo, não percebeu o que estava acontecendo.

A verdade é que, dia após dia, os habitantes do reino foram sendo acometidos por uma gigantesca preguiça.

Como zumbis, se arrastavam pelas ruas bocejando e, como bocejo é reconhecidamente transmissível, mais e mais pessoas foram sendo contaminadas pelo desânimo, pela apatia e, finalmente, por um sono profundo e incontrolável.

Os que acreditam nessas coisas disseram que foi uma praga.

Muito preferiram acreditar que se tratava de castigo divino.

Os homens da Ciência alegaram ser um vírus e os alquimistas imaginaram que pudesse ser uma mistura de elementos, na água, ou no ar, que contaminava a todos.

A verdade é que ninguém conseguiu encontrar a razão daquele fenômeno que fazia mais e mais gente dormir um sono que parecia ser eterno.

E, como acontece quando dormimos, ninguém se deu conta do que acontecia ao redor.

Apenas dormiram, sonhando com um passado feliz, alheios à realidade.

Estranhamente, o rei e sua corte não dormiu.

Sem se abater com o que acontecia com seus súditos, a família real se mantinha desperta e ativa.

Um povo que repousa não sabe quem é o monarca que os governa

Mais que isso.

Não demorou para a realeza perceber que aqueles que frequentassem o Palácio real, também continuariam acordados.

Descobriram que quem convivia com o rei estava imune à praga cruel, ao castigo divino ou à inexplicável doença do sono.

E como o rei prezava muito sua condição real, trouxe para dentro do casarão aqueles que poderiam lhe ser úteis.

Inicialmente, um punhado de nobres amigos.

Muitos desses nobres, aliás, viram no sono do reino uma  oportunidade para fortalecer suas nobrezas e aumentar suas riquezas.

Já a família real se deu conta de que, com o povo dormindo, poderia expandir ainda mais seu reinado. Quem sabe até para reinos vizinhos se o sono rompesse fronteiras.

Por isso, não permitiu que seus generais adormecessem, afinal, precisavam se proteger e estar preparados.

Trouxeram alguns generais, nem todos, para dormir dentro do Palácio, nas suas camas reais.

Os generais e nobres que não atenderam ao convite real, dormiram como o resto do reino.

E enquanto alguns poucos que ainda não haviam dormido tentavam descobrir a razão daquele fenômeno e acordar o povo que hibernava, outros  logo perceberam a oportunidade de tomar de assalto as riquezas do reino.

Assim, os interesseiros, levianos e canalhas, optaram por se aproximar dissimuladamente  da família real para se aproveitar daquela oportunidade.

A corte, então, com seus exércitos e nobres cada vez mais ricos e poderosos, tinha motivos de sobra para festejar.

Exércitos e nobres que, para não perder sua condição de acordados, apoiavam e riam das, cada vez mais frequentes, atrocidades impostas pela família real. Mas um reino, sem povo, não produz novas riquezas, não sobrevive.

Está fadado a um destino sombrio e sem esperanças.

Foi o que aconteceu com esse reino.

O final da história, ninguém sabe bem qual foi.

Alguns dizem que um dia, do mesmo jeito que dormiu sem nenhum motivo aparente, o reino inteiro acordou e, revoltados com tudo que fizeram enquanto dormiam, derrubaram o rei e trouxeram de novo a alegria para o reino.

Outros dizem que o povo dormiu para sempre.

Ninguém sabe.

O que todo mundo sabe é que nem toda história tem final feliz.