“Hoje é possível produzir mais carne com menor necessidade de insumos, o que permite a produção de um produto mais sustentável” Ricardo Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) (Crédito:Mario Castello)

O Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango e o segundo maior produtor global. A quantidade produzida em território nacional em 2021 foi de 14,3 milhões de toneladas, ficando atrás somente dos Estados Unidos, com cerca de 20 milhões de toneladas, e da China, com 14,7 milhões de toneladas. Internamente a proteína de aves é a preferida dos brasileiros, com consumo per capita muito superior às demais. Pela sua elevada produção, o Brasil destina 75% da carne suína para consumo interno e 25% para o mercado externo. No caso de frango de corte, de cada três aves produzidas no País, dois atendem o consumo interno (66%) e um vai para exportação (33%). Diante disso, o Brasil tem adequado quase que em tempo real as exigências dos mercados importadores.

Na China, a carne suína continua sendo a preferida, mas a alta dos preços provocou um aumento no consumo de aves. No Brasil não é diferente. Por aqui, a proteína já é a principal e deve representar 51% de todo o consumo em 2022. Em 2030, o frango deve representar 41% de todo consumo, abrindo ainda mais distância em relação aos suínos (34%), bovinos (20%) e ovinos (5%). Os peixes não entram na conta. “Estamos nesse aumento de consumo de frango desde 2019. No ano passado, fechamos com o consumo per capita de 45,6 kg. A demanda interna cresceu muito e a externa também. Em meados de 2018, quando surgiu na China o surto de peste suína africana que se intensificou em 2019 e 2020, aumentou a demanda de todos os tipos de carnes”, explica Juliana Ferraz, a analista de mercado da área de aves e suínos do Cepea/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

PRODUÇÃO ACELERADA Com ciclo mais curto de 45 dias, a produção do frango cresce em capacidade de forma mais rápida que as demais proteínas (Crédito:Andre Coelho )

Uma soma de fatores fez com que o setor alcançasse este posto de destaque, tanto no mercado interno quanto no internacional. Enquanto vemos grandes produtores de carne de frango da Europa, Ásia, África e América do Norte sofrerem com focos de influenza aviária, o Brasil se mantém livre da enfermidade. “Nunca houve qualquer registro dessa doença no País, que é grave e afeta plantéis de aves, causando prejuízos, falta de produtos e inflação nos mercados afetados”, declara Ricardo Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). Outro ponto importante foram os avanços tecnológicos e produtivos, que permitiram avançar em níveis de produtividade. “Hoje é possível produzir mais carne com menor necessidade de insumos, o que permite a produção de um produto mais sustentável, com menor nível de emissões”, diz Santin.

O fato de ser mais sustentável e acessível, contudo, só explica uma parte dessa ascensão. Santin lembra que o fato de produzirmos em um ambiente com clima relativamente ameno é outro fator que favorece o Brasil, visto que parte dos competidores internacionais enfrentam oscilações de temperaturas bem mais severas. Além disso, o consumo de aves não sofre nenhuma restrição religiosa ao redor do mundo, diferentemente do que acontece com bovinos e suínos. O islamismo, por exemplo, é a religião que mais cresce no mundo e seus seguidores não comem carne de porco, assim como os judeus. Por isso, há uma tendência de estabilização das outras proteínas, que vão continuar crescendo, mas não no mesmo ritmo da carne de frango.

Mudança no mercado

Everton Krabbe, pesquisador e chefe geral da Embrapa Suínos e Aves, ressalta que além das questões culturais e religiosas, o que deverá determinar o futuro será a dinâmica da evolução da população mundial. “Sabemos que essa população é crescente e sua maior expansão será em regiões mais pobres. Com isso, a expectativa é de que a proteína de aves cresça muito”, afirma. Na visão da analista de mercado da área de aves e suínos do Cepea, a saúde tem sido outro ponto importante. Em países de alta renda, os hábitos alimentares também estão mudando, indicando uma maior preferência por carnes brancas, em linha com a tendência da alimentação saudável. “Em alguns locais, o porco é visto como uma carne menos benéfica. Claro que na Ásia ela ainda é a preferida, mas no geral o frango tem essa vantagem de não possuir restrições de ordem religiosa, de saúde, por ser uma carne magra, com um ótimo benefício nutricional e ainda ter um preço bem acessível”, diz.

Outro aspecto importante para o número maior na produção é o tempo. “Como o ciclo do frango é mais curto que o das outras proteínas (45 dias em média), é possível crescer em capacidade de forma mais rápida do que suínos e bovinos. Assim, a indústria também reage de maneira acelerada quando a demanda é muito aquecida como está ocorrendo agora. Por conta dessa maior demanda, há maior investimentos e utilização de maior capacidade de produção”, ressalta Leonardo Dall’Orto, vice presidente de mercado internacional e planejamento da BRF. Essa multinacional brasileira é a segunda colocada no ranking da Watt Poultry, com forte liderança no Oriente Médio e Japão, atrás apenas da também nacional JBS.