No governo passado, o presidente da Câmara atuou como o imperador Arthur Lira I. Tudo podia e tudo fazia, escorado num orçamento secreto de R$ 19 bilhões, distribuídos aos parlamentares como moeda de troca para sua sustentação no poder, mandando e desmandando no governo e, principalmente, em Bolsonaro. O capitão, que se transformou numa verdadeira “Rainha da Inglaterra”, pois pouco mandava nos cofres públicos, fazia vistas grossas para os superfaturamentos embutidos nas emendas parlamentares desse orçamento privado, sob controle do poderoso deputado.

O “Rei Arthur I”, portanto, tinha Bolsonaro sob suas rédeas, E, ano após ano do (des)governo anterior, foi ampliando seu poder, obtendo mais cargos públicos e mais verbas para seu curral eleitoral em Alagoas, ao ponto de ter sido o deputado federal eleito com o maior número de votos no seu estado. Além de todo o poder no controle do orçamento, o presidente da Câmara também subjugava Bolsonaro com ameaça de cassar seu mandato presidencial. Afinal, crimes não faltavam. O então mandatário acumulou quase uma centena de pedidos de impeachment.

Mas, agora, com a posse de Lula, todo mundo pensou que isso fosse mudar, certo? Errado. O deputado alagoano deve se reeleger na próxima quarta-feira, 1, com quase 500 votos (dos 513 parlamentares), uma maioria tão esmagadora que contará com votos do PT, inclusive por imposição de Lula, e até do PL de Valdemar Costa Neto. Neste caso, a partir da semana que vem teremos na presidência da Câmara o “Rei Arthur II”, ungido pela esquerda e pela direita.

Para obter um novo mandato, contudo, Arthur Lira não está poupando dinheiro público que ele controla na Câmara. Está torrando R$ 70 milhões do nosso rico dinheirinho para cooptar os deputados que votarão nele por determinação dos chefões que mandam nos partidos ou que estavam reticentes em reelegê-lo. O primeiro passo foi conseguir um aumento de 37,32% nos salários dos parlamentares (a inflação no ano passado foi pouco mais de 5%), com os soldos de cada um saltando de R$ 33,7 mil para R$ 42 mil em abril deste ano (haverá reajustes anuais até fevereiro de 2025, quando os salários dos marajás da Câmara deverão atingir R$ 46,3 mil).

E tem muito mais benesses aos nobres companheiros do “Rei Arthur II”. Cada deputado poderá gastar até R$ 9,3 mil em combustível por mês, quando no ano passado poderia gastar R$ 5,7 mil. Dá para dar a volta ao mundo de carro. Os deputados também terão os gastos com aluguel de casas ou apartamentos em Brasília bancados pela Câmara até o valor de R$ 8,4 mil (o dobro do que poderia se gastar no ano passado, em torno de R$ 4,2 mil). Com esse valor, pode-se alugar uma mansão no Lago Sul de Brasília. Só com combustível e auxílio-moradia, a Câmara de Lira vai torrar R$ 32,6 milhões. Com o aumento salarial, serão queimados outros R$ 36,4 milhões. Mas dinheiro para comprar comida para os indiozinhos Yanomamis, que estão morrendo de fome em Roraima, não tem, né?