O ministro Paulo Guedes obteve mais um privilégio. Bolsonaro liberou o uso do Palácio da Granja do Torto para sua moradia. Guedes está habitando o local já há alguns dias como refúgio para não se contaminar com a Covid-19. Ele morre de medo de pegar a doença, pois tem 70 anos e está no grupo de risco. Antes de se mudar para o palácio, ele estava morando no Hotel Golden Tulip, em Brasília, mas sentia-se desprotegido, por ser frequentado por muitos turistas. Guedes é adepto do isolamento total defendido pelo Ministério da Saúde, que contraria Bolsonaro. No início da pandemia, o ministro chegou a se entrincheirar em sua casa no Rio, onde despachou várias vezes por videoconferência, mas o presidente não gostou nada desse distanciamento. Quer o ministro em Brasília.

Mordomias

é uma chácara com 37 hectares, no entorno da capital federal, onde trabalham 16 funcionários do governo. O palácio consome anualmente R$ 3,4 milhões de recursos públicos, gastos com pagamentos de contas de água, luz e comida de graça para todos, inclusive para os 308 animais que lá vivem (há até avestruzes nos jardins).

Churrascos

Esse palácio já foi moradia oficial de vários presidentes, como João Goulart, general João Figueiredo (criava cavalos lá) e Lula.
O petista usava as dezenas de churrasqueiras do sítio para oferecer festas nos finais de semana aos ministros mais chegados. Seus filhos levavam amigos para esbaldarem-se nas piscinas do Torto. Pouco mudou.

Rápidas

* O governo Bolsonaro está prevendo que se a paralisação da economia por causa do coronavírus se mantiver até julho, como tudo indica, o tombo do PIB deste ano pode ser de 4%, mas se tudo voltar ao normal já, como deseja o presidente, a queda será menor, de 1,5%.

* O relatório Focus, do Banco Central, feito a partir de opiniões de executivos do mercado financeiro, estima a retração de 1,96%, mas o Banco Mundial está calculando um recuo de 5%. O que está ruim, pode piorar muito.

* Está ficando cada vez mais claro que não será possível realizar as eleições municipais no dia 4 de outubro. Os partidos estão imobilizados por conta do coronavírus. O mais provável é que aconteçam no dia 15 de novembro.

* A senadora Selma Arruda perdeu definitivamente seu mandato. A “Moro de saias”, como é conhecida, havia sido cassada pelo TSE em dezembro, mas a mesa diretora do Senado adiava a decisão, tomada na quarta-feira, 15.

Cortando na carne

Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados

O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) diz que a Câmara, que ele preside, também vai dar sua contribuição para ajudar no combate à Covid-19. A Casa vai cortar R$ 150 milhões de seus gastos anuais e oferecer os recursos para o Ministério da Saúde usar na contenção da doença. Não falou ainda se vai apresentar alguma proposta para reduzir salários dos deputados, de R$ 33,7 mil mensais, fora as mordomias.

Retrato falado

“O Parlamento está carregando o Brasil nas costas” (Crédito:GABRIEL REIS)

A deputada Joice Hasselmann, líder do PSL na Câmara, afirma que os deputados e senadores são os únicos que estão tomando medidas práticas para ajudar o País a combater a tragédia do coronavírus. “Todas as medidas objetivas que têm sido adotadas pelo governo federal foram viabilizadas em votações no Congresso.” O governo, por exemplo, queria dar só R$ 200 por pessoa para enfrentar a crise financeira provocada pela Covid-19. Os parlamentares aumentaram o valor para R$ 600.

Força ao vírus

Bolsonaro consegue errar mesmo quando a intenção é boa. Nessa história de socorrer as pessoas com R$ 600, o governo conseguiu causar a maior confusão no país. Provocou aglomerações humanas gigantescas nas portas da Caixa, BB, lotéricas, Receita e Justiça Eleitoral, ajudando a disseminar o vírus. O presidente é um forte aliado da Covid. A Câmara aprovou a medida emergencial no final de março e o governo regulamentou a ajuda no início de abril. É tanta burocracia que, 15 dias depois, milhões de pessoas carentes ainda não receberam um centavo. Muitos não têm internet para fazer as contas digitais e têm dificuldades para entender as complicadas orientações.

Vem pra Caixa

Assim, o governo mandou à Caixa milhões de pessoas, que se acotovelam nas agências. Depois de horas, os funcionários da CEF despacham as pessoas para o BB, dizendo que o dinheiro está lá. No BB, informa-se que o CPF está vencido ou que o título de eleitoral não está em dia. A Covid agradece.

Efeito Caiado

As digitais do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, estão espalhadas pela crise entre o ministro Mandetta e o presidente Bolsonaro. Foi Caiado quem indicou Mandetta para o cargo. Os dois são médicos, do DEM, e amigos de longa data. Quando Bolsonaro ficou com ciúmes de Mandetta e ameaçou demiti-lo, Caiado rompeu com o presidente.

Marcos Corrêa/PR

Presidenciável

Caiado esteve por trás, inclusive, da entrevista que Mandetta deu ao Fantástico detonando Bolsonaro. Mandetta e sua mulher passaram o domingo de Páscoa com o casal Caiado no Palácio das Esmeraldas, a sede do governo de Goiás. Foi de lá que o ministro disparou as provocações a Bolsonaro. Se for demitido, vira candidato a presidente pelo DEM.

Pagou o pato

Camila Souza/GOVBA

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), acabou pagando caro pelos ataques do deputado Eduardo Bolsonaro e de Weintraub à China. Comprou 300 respiradores de um fornecedor chinês por R$ 70 mil cada, mas os chineses preferiram vendê-los aos EUA. Agora, a Bahia vai pagar R$ 160 mil por unidade, adiantados.

Toma lá dá cá

Luciano Bivar, deputado federal (Crédito:Divulgação)

Como o senhor avalia a postura de Bolsonaro em relação à Covid-19?
O melhor termômetro é o que se vê nas pesquisas de opinião pública, com a população reprovando a conduta do presidente quando ele minimiza a pandemia.

O que o senhor acha do embate entre o presidente e o ministro da Saúde quanto ao isolamento social?
No mundo inteiro, o que tem surtido efeito é o isolamento social. É nocivo para o País o presidente adotar uma postura contrária à de seu ministro, sem se basear em qualquer comprovação científica.

O governo está adotando as medidas certas para enfrentar a crise?
Graças à postura firme do ministro Mandetta, e ao trabalho da imprensa, estamos conseguindo segurar o caos na saúde pública.