ESCÂNDALO Corinna Larsen é tida como laranja em um esquema bilionário de corrupção: amante delatora (Crédito:Divulgação)

O rei está nu. Responsável pela implantação da democracia na Espanha depois da morte do ditador Francisco Franco, Juan Carlos I, rei emérito, acaba de dar mais um passo rumo ao abismo. Seu legado está desmoronando e com as inúmeras polêmicas envolvendo seu nome, a tradição e honra que cerca a família real perde valor no imaginário dos espanhóis. Acusado de receber mais de US$ 100 milhões em um esquema de propina com empresas da Arábia Saudita, o nome do ex-monarca virou sinônimo de corrupção e vergonha. Pensando em evitar escândalos que prejudiquem ainda mais o nome da família real, ele deixou o país na última semana e segue sem paradeiro conhecido. Nebulosa, a situação corrobora para complicar ainda mais a situação de Juan Carlos e evidenciar sua culpa.

O reinado de quase 40 anos começou a ruir em meados de 2012, quando, ainda como governante e enfrentando a crise econômica mundial, fez uma viagem a Botsuana, na África, para caçar elefantes ao lado da amante, Corinna Larsen, e acabou se acidentando. Sem perspectiva de abafar o caso, restou ao nobre admitir sua culpa e pedir desculpas aos espanhóis – o pedido foi feito, mas não evitou o estrago em sua imagem pública. Em 2014, pouco depois do episódio vexatório, o nobre abdicou do trono e o passou para o filho, Felipe, coroado como Felipe VI. Com o gesto, perdeu a imunidade política, benefício concedido pela legislação espanhola ao rei em exercício. Posteriormente, foi apontado como testa de ferro no esquema com os sauditas. Segundo órgãos que investigavam o caso, o dinheiro está associado à construção de uma ferrovia apelidada de Ave do Deserto, trem de alta velocidade que ligará Meca a Medina. Na trama, Juan Carlos teria cobrado um valor exorbitante para conceder as licitações dos trens a um consórcio de empresas espanholas, desviando milhões para contas fantasmas em países como a Suíça, onde Corina Larsen, com quem o rei tem um filho de 18 anos, atuava como laranja.

POLÊMICO O ex-monarca revelou um caso extraconjugal em
2012, após sofrer um acidente caçando elefantes com a amante (Crédito:Divulgação)

EM NOME DA HONRA

Conforme a sociedade avança, tradições culturais perdem o valor, se modernizam e até deixam de existir, mas não é o que acontece com a monarquia na Espanha. No dia 3 de agosto, Felipe VI recebeu uma carta do pai, que o informava sobre sua decisão de deixar o país. O gesto foi visto como estratégico pela imprensa, como um ato para acalmar a opinião pública e preservar a imagem da coroa. “Guiado pela convicção de prestar o melhor serviço aos espanhóis, a suas instituições e a você como Rei, comunico-lhe a minha meditada decisão de me mudar neste momento para fora da Espanha. Uma decisão que tomo com profundo sentimento, mas com grande serenidade”, disse Juan Carlos. “Fui rei da Espanha durante 40 anos e durante todos eles sempre quis o melhor para a Espanha e para a Coroa. Com o carinho e afeto de sempre, teu pai”. Apesar dos rolos de Juan Carlos, Felipe VI, de 52 anos, ainda tem alguma credibilidade junto aos espanhóis. Casado e distante de polêmicas, o monarca tomou decisões severas nos últimos meses, como o corte na pensão do pai, no valor de 200 mil euros por ano, além da renúncia a qualquer herança oriunda de contas do pai no exterior. A decisão foi motivada por pressão popular e denúncias do Ministério Público Anticorrupção. Segundo a imprensa espanhola, Felipe VI transmitiu “seu sincero respeito e gratidão” ao pai depois de receber o comunicado, respeitando sua decisão de deixar o país. A verdade, porém, é que o ato representa a definitiva aniquilação política de Juan Carlos.


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