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Os longos “dedos” do vírus apontam para qualquer etnia. Seria razoável imaginar, portanto, que em plena pandemia a biologicamente tão evoluída espécie humana baixasse a bola — e o arrogante se fizesse humilde, o orgulhoso se fizesse cândido, o egoísta se fizesse empático, o supremacista branco se fizesse de todas as cores. Engano. Há seres humanos tão burros que, mesmo na esteira da linha de montagem da morte, seguem se achando melhores que os outros. Persistem em seus preconceitos, sobretudo em países em que a discriminação é estrutural.

Não bastasse a Covid para não deixar pessoas respirarem, nos EUA houve o tosco joelho esquerdo de um policial branco esmagando por nove minutos o pescoço negro de um suposto passador de dinheiro falso. O nome do branco, Dereck Chauvin; o do negro, George Floyd. Ele foi preso em uma loja na cidade de Minneapolis, estado de Minnesota. Levado para a rua e sem oferecer resistência, apanhou da polícia até que o preconceituoso Dereck ajoelhasse em seu pescoço para “imobilizá-lo”.

SUFOCADOS Câmeras filmaram
o assassinato de Beto (acima) e de Floyd: como o vírus, seguranças e policial amam a falta de ar dos outros (Crédito:Divulgação)

Floyd balbuciava: “não consigo respirar”. O policial, feito vírus, ama a falta de ar de pessoas. Floyd morreu no dia 25 de maio e, a partir de então, o mundo foi tomado por uma onda de protestos sob a palavra de ordem “Black Lives Matter” (“Vidas negras importam”). No Brasil, em Porto Alegre, seguranças terceirizados do Carrefour espancaram até a morte o cliente João Alberto Freitas — troco de um mero desentendimento. Foi em 19 de novembro, véspera do Dia da Consciência Negra. Também houve diversos protestos sob o mesmo lema “Black Lives Matter”, e o general quatro estrelas Hamilton Mourão, vice-presidente, perdeu uma ótima chance de ficar calado. “No Brasil não há preconceito”, declarou ele. A falta de ar de Freitas é a melhor resposta a Mourão.

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