Francisco José Pereira de Lima, mais conhecido como Preto Zezé, presidente nacional da Central Única das Favelas (Cufa), foi o entrevistado da live da IstoÉ na última segunda-feira (5). Filho de um casal de retirantes, mãe doméstica e pai pintor da construção civil, ele foi criado na favela das Quadras, em Fortaleza (CE), e tornou-se uma referência mundial quando o assunto é favela. Na conversa com os jornalistas Fernando Lavieri e Rafael Ferreira, Preto Zezé, que é empreendedor, produtor artístico e musical, falou sobre os projetos da entidade que dirige, principalmente de combate à pandemia, e sobre o racismo estrutural.  Preto Zezé mergulhou na própria história e contou alguns casos em que sofreu preconceito racial. “Se deixar, o racismo enlouquece a gente”, diz.

Na troca de ideias, o dirigente da Cufa falou sobre o projeto “Mãe das Favelas”, ajuda mães solo das comunidades, e o movimento “Panela Cheia’’, iniciativa que tem distribuído cestas básicas em todo o País. Preto Zezé diz que a maioria das pessoas que tinham seu pequeno negócio nas favelas tiveram que fechar. Outra parte deixou de fazer bico, mais da metade deixou de trabalhar, em resumo, a renda é menor hoje do que antes da pandemia e as panelas estão vazias. “A fome não mexe só no físico, mas mexe com o subjetivo, na integridade das pessoas. A nossa missão é transformar o caos em oportunidades e soluções”, diz.

O presidente da Cufa disse também da importância da organização na luta contra o racismo. “A pandemia escancarou como o racismo opera no Brasil, de cada cem pessoas mortas, 62 eram negros. O racismo brasileiro é o mais eficiente do mundo; as pessoas assumem que ele existe, mas ninguém assume que pratica”. Preto Zezé avaliou o papel dos moradores das favelas no enfrentamento à crise sanitária do novo coronavírus, em especial no campo da economia e do trabalho. “O País só não parou porque a favela foi se sacrificar nas ruas para manter os serviços essenciais. Sem a favela, o Brasil para.”

Para ele, “a Cufa nasce do desejo da favela ser feliz, dos favelados protagonizarem algum momento de transformação das vidas para gerar felicidade.” Quando a pauta debate a política partidária, Preto Zezé é taxativo; “Todo partido tem seu pretinho para chamar de seu. Os pretos, na verdade, só estão lá para legitimar a política. Temos que discutir uma agenda de poder”. Na live, o presidente da Cufa anunciou que a entidade acaba de negociar com o governo de São Paulo a construção do Museu da Favela. “A ideia é tirar a favela das páginas policiais e enaltecer suas potencialidades”, afirma Preto Zezé.