Quando desembarcou no aeroporto de Cumbica, em São Paulo na terça-feira 9, e seguiu direto para o Hospital Israelita Albert Einstein, Pelé expressava no rosto um abatimento compreensível. Ele chegava de Paris, onde havia ficado internado por cinco dias no Hospital Americano para tratar de mais uma infecção urinária cujo cuidado exigiu a sua hospitalização. E preparava-se para outra temporada de internação, combinada entre os médicos franceses e brasileiros enquanto ele era tratado na capital francesa. A verdade é que Pelé, nosso rei do futebol, anda com a saúde frágil há anos, com o corpo desgastado por sucessivos problemas no funcionamento do aparelho urinário, por dores constantes nas costas e dificuldade para andar por causa de complicações derivadas do aparecimento de uma fibrose (formação de tecido conjuntivo) no quadril.

CANSAÇO Cercado por fãs ao chegar em SP, o ex-jogador estava abatido. De lá, foi para o hospital (Crédito:NELSON ALMEIDA/AFP)

Até a quinta-feira 11, não havia previsão de alta do ex-jogador. Os médicos detectaram um cálculo no ureter esquerdo, um dos dois canais que ligam os rins à bexiga, e planejavam sua retirada. A data para o procedimento, no entanto, não estava definida. Sob os cuidados dentro do hospital, Pelé mostrava-se mais disposto e em bom estado clínico.

Acompanhamento de perto

As recorrentes infecções urinárias e formação de cálculos estão entre as principais ameaças à saúde do rei. Os dois problemas estão interligados, uma vez que os cálculos predispõem às infecções. Isto porque bactérias podem se acumular acima do bloqueio feito por eles no fluxo da urina, gerando contaminações que podem chegar à corrente sanguínea e daí disseminando-se pelo corpo. Quando chega neste estágio, a infecção pode se tornar um problema muito grave, podendo ser fatal. Por essa razão, pacientes nas condições em que se encontra Pelé devem ser monitorados muito de perto para evitar que uma infecção localizada torne-se uma infecção generalizada.

Os cálculos são outra complicação. “Eles têm causas variadas, entre elas distúrbios metabólicos que levam à concentração de sais minerais no corpo”, explica o urologista Carlo Passerotti, do Centro Especializado em Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Além do aumento do risco de ocorrência de infecções, os cálculos, dependendo do tamanho e da localização, podem provocar dores intensas até que sejam expelidos ou extraídos.

Pelé tem ainda uma situação especial. Em 1977, ele passou por uma cirurgia para retirar o rim direito. Foi logo depois que o rei aposentou-se dos campos após jogar no time americano Cosmos. Não se sabe exatamente porque isso foi necessário. Há versões de que o órgão teria sido atingido por um tumor. O ex-jogador, no entanto, nunca confirmou isso e chegou a dizer que o rim tinha sido danificado por pancadas que havia sido sofrido ao longo da carreira.

Acredita-se que uma das questões de saúde que o rei herdou dos campos seja o problema no quadril. Em 2012, o ex-jogador submeteu-se a uma operação para colocar uma prótese na articulação, atingida pela formação de fibrose. Quatro anos depois, foi obrigado a passar por outra intervenção para tratar novamente a articulação.

Aos 78 anos, o homem que encantou o mundo com sua arte luta para manter a saúde. É difícil dizer o quanto do que sofre hoje é resultado dos 21 anos de futebol em um tempo em que, ao contrário de hoje, os atletas não eram tão bem preparados para enfrentar o desgaste físico causado pelos jogos. E muito menos para se prevenirem de lesões futuras. Mas uma coisa é certa: o mundo já torceu por ele em campo. Agora torce por mais uma vitória do rei fora deles também.