Um grupo de caminhoneiros protocolou, no Palácio do Planalto, uma paralização para quinta-feira, dia 4 de dezembro – porém, outros porta-vozes da categoria negam apoio à ação e apontam tratar-se de um movimento de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Empresários alinhados ao líder de extrema-direita teriam, inclusive, oferecido ajuda financeira e jurídica para respaldar a greve.
Francisco Dalmora Burgardt, conhecido como Chicão Caminhoneiro – que se autoproclama representante do setor – divulgou a suposta greve por meio das redes sociais. Além dele, esteve em Brasília para protocolar a decisão o desembargador aposentado Sebastião Coelho.
Coelho não esconde suas simpatias políticas – na última semana, ele tentou convocar uma paralização da categoria para reivindicar a liberdade de Bolsonaro e demais envolvidos na tentativa de golpe culminada em 8 de janeiro de 2023. A CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística) chegou a alegar que não compactua com o uso do nome do setor para manifestações políticas.
Chicão, em contrapartida, negou que a paralisação tivesse cunho político e pede que os caminhoneiros “respeitem às leis”.
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Bolsonaristas tentam capitalizar greve
O caminhoneiro Wallace Landim, também chamado de Chorão, informou à IstoÉ que a mobilização marcada para o dia 4 de dezembro é voltada à defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, sem compromisso com as pautas de melhoria trabalhista adotadas pela categoria.
Chorão afirma tratar-se de um movimento de “poucos caminhoneiros” e que, desde o princípio, se mostrou contrário à proposta. Durante reuniões para organizar demandas do setor, alguns integrantes teriam incluído a questão da anistia de bolsonaristas entre as pautas e até convidado Wallace para acompanhar a protocolação da greve, em Brasília.
A fim de convencer a classe, alguns caminhoneiros argumentaram que “certos empresários” dariam respaldo financeiro e jurídico ao setor caso a paralização ocorresse. Corre-se no âmbito interno que uma eventual ajuda entre os trabalhadores e a ala política conservadora traria benefícios mútuos.
“Isso deixou o segmento preocupado, porque é uma ação velada, uma tentativa de usar a pauta do transporte para levantar um movimento político.”, explicou o representante.
Apesar de não ser a primeira vez que parcela dos caminhoneiros tentam engajar o resto da categoria entorno do apoio à extrema-direita, Chorão vê a agitação atual como “mais forte”. Segundo ele, as redes sociais têm funcionado como palco de popularização da greve – com anúncios feitos por influenciadores – mesmo sem suporte oficial da classe.
Como vai funcionar
Apontado como movimento de uma minoria de caminhoneiros, a greve não parece ter adesão suficiente para uma paralização em massa. Segundo o representante Wallace Landim, a maior parte da categoria – e também da população – já perceberam se tratar de um ato político, o que desnutre a articulação.
“Eu vejo que alguma coisa deve acontecer, como aconteceu no dia 8 de janeiro [de 2023, quando caminhoneiros aliados à Bolsonaro bloquearam algumas rodovias]. Algumas pessoas tentaram paralisar alguns pontos. Mas eu não vejo que tenha força para permanecer.”, prevê.
Ele afirma que a sugestão passada à “associados e irmãos caminhoneiros” é de não aderir à greve em nome do segmento. Se realmente quiserem promover manifestações políticas, que façam isso apenas “como brasileiros”.
“Eu não acho justo querer usar essa classe tão sofrida para levantar movimento e defender político. Político tem que ser cobrado, não idolatrado.”, finaliza.